Poesias



Metáforas do viajante silencioso

Viaja minha sorte com o vento 
Vejo a morte nas marcas do tempo 
Cronos o deus com a ampulheta 
Indica os ciclos em sua silhueta 

Dunas de areia vão se formando 
E castelos de infância desmoronando 
O sopro do gigante que desfaz 
A inocência de criança que então jaz 

Na ínfima parte do ídolo racional 
Que descansa inerte em seu trono unilateral 
O parasita não-simbiótico, porém predador. 
Acoplado no gene, qual pecado e origem de dor. 

E então quando no silêncio surgido 
No Abismo profundo como um rugido 
Do Dragão que na caverna esconde e habita 
A verdade selada que se revela e precipita 

O aterrador encontro consigo, Integrado... 
Na infinitude e no Imanifestado, no Todo e no fragmentado. 
Um nada... O Não-Ser uno ao Ponto Zero 
A travessia no Olho do Tigre...Bico da Águia...Mar austero! 





O que sinto

Quando o coração não fala
E uma saudade indefinível
de algo, em algum lugar inconcebível
Escondido, lá onde o pensamento cala. 

Começa a desmoronar.
Uma tristeza tênue, mas profunda
que das profundezas emergi oriunda.
A consciência no fundo do escuro mar.

Desconhecido sentimento.
Ligeiro, frio e implacável como a serpente
repousa n’outro hemisfério, antípodas da mente.

Sinto, mas não o vejo...Como um vento

Transpassa, sutil, mas definitivo.
Sinto-me algo parecido ao um fugitivo
Acreditando nas ilusões que invento.






Liana dos Sonhos (A Pequena Morte)


Quando morri surgi novamente,
em outro espaço-tempo, no mundo da serpente.

Veloz... tudo era movimento.
Explosões de cores em caleidoscópio,
imagens sobrepostas. Como entorpecido pelo ópio, 
meu corpo inteiro parecia de cimento.

Catedrais reptilianas como um imenso mosaico,
cristalizaram-se diante de mim em êxtase arcaico.

Um incessante bailado de cores me absorvia.
O som do silêncio se apresentou,
num túnel geométrico seu verbo ecoou.
A boca recusava expressar em palavras o que sentia.

O medo me dominou, a dúvida se fez presente.
A razão, juiz algoz, me jugou demente.

Preocupado com a aceleração cardíaca,
me vi desesperando nadando em minhas veias.
O sangue me envolveu,  como uma aranha preso em suas próprias teias. 
Afoguei-me na corrente sanguínea, ao fugir da garra demoníaca.

E os demônios alados fluorescentes,
Emergiram-me mostrando os seus dentes.

Nunca imaginei ser salvo por feras caídas.
Suas cristalinas faces, geométricas e bizarras,
refletiam todas as minhas amarguras, angústias e amarras.
Eram as essências puras de minhas feridas.

Acordei! E o mundo agora era linear,
soube então, que estava a minutos sem respirar.

Meus pensamentos estavam ausentes.
Meus sentimentos eram profundos, vinham do coração
Queria explodir em amor como uma bolha de sabão.

A terra, as folhas o ar, todas as coisas, como num desenho animado se apresentavam resplandecentes.





À Mulher Nagual



Nagualística mulher ...
Arde em chamas
Queima nua

Na sua carne crua
Tu'alma exclama
"E se não houver ...

Mais nenhuma chance
De me dissolver 
Com o fogo Interior

Expandindo o meu Amor
Um farol há de tecer
Em meu romance

Com o Desconhecido
Que possui a chave
Para abrir a porta 

Da. memória, há muito morta
E a liberdade como uma aeronave
A cair no Abismo

No ponto Zero da Consciência
Abrindo caminho
Com meu Intento

N'outro Mundo contemplo
No seguir sozinho
Da sóbria estrada da paciência

Lá, minha essência ...
Flui como lume
Qual diáfano âmbar perfume
E na terra não restará rastro, lembranças ou sinal de ausência!





 Ventos
O vento sopra em meus ouvidos
A brisa fria, dissimulada e cortante,
dilacera-me com sua rajada constante
Como os cães agonizantes em seus insistentes latidos

Ecoa em meu coração um som ininteligível
Qual um berro distante de profundeza abissal
Como o estrondo de uma linguagem gutural
a vibrar o desconforto de minh'alma insensível

Oh! Vento Oeste ... ansiosa criatura (voraz)
Do crepúsculo em direção ao meu peito jaz
Oh! Vento Sul ... calorosa brisa do escurecer

Em meus noturnos passos sem direção
desviei-me do caminho do coração
E, perdido, contemplei o dia em seu envelhecer!


iajo suavemente nessa brisa

Viajo suavemente nessa brisa
Para além do ponto onde meu olhar paralisa.

Pra lá e pra cá, como uma folha solta ao vento.
Velejo no barco aéreo por todas as direções
Desde inóspitas montanhas à confusas multidões.
Nesse eterno movimento voo nas asas do intento.

Na brisa fresca, acompanha-me a solidão confortante
antagônica a tristeza de rajada fria e cortante.

Que em tempos outros me assaltou.
As peregrinações da lagarta na paisagem árida
Levou-a num sonho florescer do âmbar crisálida.
Aos primavéricos campos com as asas negras que hoje Sou.




O Véu que Descortina

Tenho o coração partido
estilhaçado em mil pedaços.
Sentimentos que oscilam entre os eternos laços
e a dualidade efêmera do ego ferido.

É falsa e imprecisa minha máscara de autopiedade.
Disfarça ao mundo o que o olhar não oculta
diante da sombra de minh’alma impoluta.
Ensina-me a aceitar o que sou de verdade.

E o que sou não é o que vejo
Também é ilusória,
 minha pessoal história -
- Tampouco o que desejo.

Observando o negrume vazio, caí do abismo silencioso.
A morte fez-se companheira e meu ser dançou luminoso.






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