quarta-feira, 27 de julho de 2011

Virando Lobo.

Projeção Extrafísica espontânea.
Data: 31/03/06
Horário: madrugada

Quando despertei, tinha entrado no estado de paralisia temporária. O quarto estava escuro, não via nada a não ser a escuridão. Meu corpo estava pesado, profundamente adormecido. Sabia que meu psicossoma estava pronto para desacoplar. 

Lembrei-me da técnica tolteca de olhar para as palmas das mãos. Assim que dei a ordem, tive a impressão de algo na frente dos meus olhos. Mas não enxergava nada, a não ser umas tênues nuances de fios transparentes. Fixei meu olhar, mas, por mais que tentasse, só percebia a escuridão e a impressão de linhas transparentes.

Sentia enorme dificuldade de me projetar. Fiz um esforço e tentei flutuar. Mas minha intenção era despropositada, não tinha vontade inflexível, parecia meramente cotidiana e indolente. Procurei não desistir e me concentrei firmemente. Pouco a pouco fui imaginando a saída do corpo. Num instante, meu psicossoma começou a se projetar de forma estranha. Senti-me como um lagarto fazendo extremo esforço para sair do ovo. Uma coisa muito esquisita de sentir... Saí como que espremido do meu corpo físico. Tive plena clareza da minha ausência imaginativa.


De qualquer forma minha atenção subiu como um elevador e atravessou a laje. Quando já estava flutuando alguns metros acima da laje, percebi que não era minha casa, e sim uma outra residência que desconhecia. Mas estava certo de que era o bairro onde morava.

Estava tudo escuro, não conseguia nem sequer me orientar através das luzes dos postes na rua, tinha a impressão de estar cego, ou algo parecido. Tudo era treva. Mas não me entreguei à sensação, continuei a voar sobre a região, talvez a uma altura de 40m. A todo o momento fazia esforço para adaptar minha visão à escuridão. Não queria acreditar que talvez não estivesse enxergando. 


De repente, me senti animado e comecei a rir com a situação, dizendo para mim mesmo que queria ir onde tivesse luz, que luz era minha intenção. Em seguida voei alegremente pela escuridão afora, sem medo. Aos poucos comecei a identificar, mesmo que parcialmente, as formas de algumas residências, ruas etc. Contudo, a escuridão era predominante. Em dado momento voei e me consumi no negrume sem saber para onde estava indo. 
Sem direção alguma. 
Depois de algum tempo, percebi estar a poucos metros do chão. Ao querer descer, avistei uma pista paralela a um morro de terra vermelha. Pousei ereto no chão, ao lado da pista, e embora escuridão se sobressaísse além do normal, identifiquei-a, era a rodovia Dutra.

Com o corpo voltado para frente, ao longo da pista, sem saber onde seria a direção sul ou norte, avistei uma estranha luminosidade no ponto do horizonte. Em termos de parâmetros físicos, parecia estar a uns dois ou três km de distância em linha reta. Parecia ser uma indústria com grandes refletores de luz, ou poderia simplesmente ser os raios do sol que estava pronto a nascer e se escondia atrás da suposta indústria.


Tive uma imensa vontade de chegar lá correndo. Meu intento ativou meu corpo psicossomático, fazendo-o arrancar tão rápido a ponto de ter mesmo uma sensação física.

Senti claramente a contração do meu nervo ciático direito. Tive a sensação de que perderia as forças se continuasse, então firmei meu pensamento, lembrando-me que não estava preso às limitações físicas. Essa atitude foi o bastante para me libertar das amarras comportamentais (Tridimensionais) da vida cotidiana.


Corria velozmente como um jaguar, com o vento a bater em meu rosto. A industria à distância se aproximava rapidamente à medida que corria. Já na metade do trajeto, comecei a usar meus “longos passos”, parecidos com aqueles que os atletas usam antes de dar o pulo, com a diferença que cada passo alcançava de cinco a seis metros de distância.

Ao notar que estava próximo do meu objetivo (alcançar a indústria) o dia já estava bem claro, embora o céu estivesse nublado e pesado como chumbo. 


Voltei a correr normalmente, mas de forma veloz. Subitamente passei a ouvir sons de passos muito rápidos do meu lado esquerdo. Como se alguém estivesse me acompanhando lado a lado na mesma velocidade. Olhei ao meu lado esquerdo e vi algo muito estranho.

O que corria ao meu lado esquerdo na mesma velocidade parecia não ser humano, embora tivesse forma humanóide. A principio, lembrava uma criança de nove ou dez anos de idade, tinha aproximadamente 1,50m de altura, mas o formato do seu corpo era de um adulto. Tinha músculos bem definidos. Não percebia sua fisionomia nitidamente, em geral a via de forma nebulosa. Seu corpo parecia todo cinza, como a pele de um paquiderme. Sua cabeça era desproporcionalmente grande com relação ao tamanho do corpo. 

Parecia algo alienígena e lembrava os et's Cinzentos ou Grey's.

A presença de algo “desconhecido” me acompanhando me aborreceu tanto, a ponto de liberar em mim um sentimento instintivo de disputa. Não gostei da sensação de poder ser acompanhado ou mesmo ultrapassado, ainda mais por uma criatura estranha. Senti emergir de dentro de mim uma força parecida com instinto de defesa territorial. Um instinto animal. Um rosnar involuntário ecoou de dentro de mim. Uma fúria animal se apoderou da minha consciência e, antes que percebesse, estava olhando para o lado esquerdo e rosnando como um cachorro louco para o ser "alienígena".


Em frações de segundo estava totalmente transformado em lobo negro, rosnando e uivando como tal. Corri agilmente como o astuto canino, conseguindo deixar o ser “esquisito” para trás. Rosnei e uivei de satisfação. 

Quando dei por mim, já tinha ultrapassado a indústria em vários metros e me encontrava novamente ereto em corpo psicossomático. Olhei ao redor, verifiquei que estava numa rua de terra, o lugar me era desconhecido. Avistei à minha frente um pequeno canino amarelo muito parecido com uma raposa. 

Pendi a cabeça em sinal de agradecimento ao animal no momento em que ele começou a se dirigir para um beco e sumir da minha vista. Depois disso comecei a perceber que estava perdendo a lucidez. Tentei olhar para as palmas de minhas mãos, mas elas estavam sujas de barro. Então tentei lavá-las em várias poças d’água que se encontravam na rua esburacada. Mas quanto mais as lavava, mas sujas elas ficavam, pois as poças estavam cheias de óleo diesel, deixando minhas mãos pretas.

Aos poucos fui ficando ansioso e a projeção foi ficando incoerente, coincidindo com meu estado emocional. Depois tudo se tornou um sonho comum e acordei.

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