
Data: 17/04/06
Horário: 7h50 da manhã
Depois de um sonho lúcido acordei, tentei levantar e não consegui, e logo percebi que entrara na sensação da paralisia temporária. Se mantivesse a calma logo me projetaria com meu psicossoma para fora do corpo físico. Mas, como é de costume, não fiquei calmo e, ao invés de me preparar para a projeção consciente, fiz força para me acoplar e acordar, ou seja, direcionei o fluxo de energia consciencial para a atenção tridimensional (cotidiana).
Na medida em que tentava essa manobra sentia meu corpo físico pesado, e claramente percebia todo o ambiente do quarto onde me encontrava. Fiz uma profunda inalação mas sabia, porém, que não era meu corpo físico que tinha efetuado a respiração; contudo me senti mais calmo. Então continuei a forçar-me a acordar. Parecia-me que, quanto mais força fazia, mais pesado e cansado me sentia, dando-me a sensação de que não acordaria. Mesmo assim, insisti até conseguir levantar o meu corpo em noventa graus. Depois, meu corpo inteiro ficou ereto. Nesse momento, o ambiente inteiro do meu quarto se modificou.
Concluí que tinha levantado o meu corpo psicossomático e não o meu corpo físico, ou seja, tinha me projetado.
Entrei no processo de autoscopia (visão de si mesmo). Em seguida, passei a perceber meu corpo psicossomático ao mesmo tempo em que percebia meu corpo físico. No nível físico tinha uma percepção, algo fantasmagórica, do meu psicossoma. Via-me quase transparente ou me desintegrando, percebia a minha atenção em estado de sono fisiológico observando meu corpo psicossomático como um espectador passivo.
De repente, meu corpo psicossomático passou examinar a si mesmo, começando a ficar coeso e assumindo o controle total da situação. No exato momento em que o fluxo de energia se redirecionou totalmente, a autoscopia cessou e meu corpo psicossomático ficou nítido.
Estava de pé no centro do quarto, a cama era muito parecida, mas não era a mesma, estava um pouco maior do que o normal. As paredes do quarto estavam rústicas. Cerca de 1,50m acima da cabeceira da cama, pendurado na parede, havia um espelho cortado em formas irregulares. Vi de relance o meu reflexo nele, mas não quis me prender nisso. Resolvi sair do quarto, me dirigindo a uma saída à minha frente. Enquanto caminhava olhava para as palmas de minhas mãos, ao mesmo tempo em que pressionava a ponta da língua no céu da boca (trata-se de uma técnica tolteca para obter percepção total e maior nível de lucidez). Quando cheguei ao lado de fora estava muito claro e era de manhã, talvez entre 7h30 e 8h00. O ambiente que presenciava era muito parecido com o quintal da casa onde moravam os meus pais, mas tudo com a aparência de anos atrás, no tempo da minha infância. Fiquei parado na área de serviço do que parecia a antiga casa de minha avó.
Segui até o quintal; quando parei, olhei para o chão e percebi que pisava numa areia muito fina e brilhante. Nunca tinha visto algo parecido. Comecei a observar tudo à minha volta. Cheguei à conclusão de que o ambiente era semelhante ao bairro onde cresci, no entanto o lugar parecia parcialmente desconhecido para mim, mas de maneira alguma ameaçador.
Percebia objetos, construções em lugares que nunca existiram ali, nem na época passada, muito menos no presente. Percebia um ambiente plasmado em minha memória do tempo de infância mesclado com outro lugar totalmente diferente. Os dois ambientes fundiam-se num só. Talvez por esse motivo transmitisse uma impressão de estranheza e familiaridade ao mesmo tempo.
Depois de examinar os detalhes olhei para o céu, ele era tão normal como qualquer céu matinal, claro com nuvens em movimento e de um azul anil.
Comecei a observar o meu corpo psicossomático. Percebi que estava no comando e sentia-me leve como uma pena. Fui abrindo os braços vagarosamente, como se estivesse me equilibrando. Em seguida não senti mais o chão. Desejei flutuar e no mesmo instante a lei da gravidade não exercia mais poder sobre mim. Comecei a levitar muito lentamente, então ergui os braços para cima e o meu corpo acompanhou o movimento. Subi para o céu azul anil na posição de decúbito dorsal. Uma alegria infantil me envolveu. Deixei o meu corpo subir como um balão, sem receios. Talvez tenha chegado a uma altura de 90m. Depois desci levemente um pouco, me estabilizando a uns 40m do nível do chão. Olhei para sudoeste, observei uma intensa neblina vindo em minha direção. Deixei-me envolver por ela.
Enquanto flutuava, a névoa começou a passar por mim até encobrir quase toda minha visão.
Desejei em voz alta conhecer os mistérios da neblina. Pedi sinceramente para ela revelar-me seus segredos, seus mistérios. Expressei minha admiração e afinidade com o elemento. Foi então que feixes da neblina começaram a passar muito próximos ao meu braço esquerdo e meu rosto. Pude claramente ver sua formação e depois sua dissolução. A névoa movia-se sobre si mesma, conservando-se e se autoconsumindo num movimento incessante.
Nesse ínterim, alguns feixes da neblina que passavam sobre o meu braço esquerdo começaram a cristalizar, transformando-se em pequenos e finíssimos fios de cristal de gelo, como teias de aranha congeladas pelo inverno rigoroso. Os fios cristalizados apareciam em formato de raízes. Seguiam e se dissolviam uns após os outros, retornando ao estado gasoso segundos depois de formados.
Achei o processo maravilhoso. Fiquei muito contente. Em seguida, voltei novamente minha atenção para a direção sudoeste. Percebi a mais ou menos 1km de distância (?) uma massa verde em um morro, formada de mato e árvores. A visão lembrava muito “Maruak”, um restante de árvores de eucalipto ainda existentes no bairro onde cresci. Quis ir até lá, pois a neblina estava aglomerada naquele ponto. Percebia uma concentração muito densa de névoa por entre as árvores. Mas, quando parti em sua direção, subitamente algo ou alguma força me fez retroceder até o ambiente do quintal. Acabei pousando em uma laje estranha, retangular e comprida. A laje localizava-se na divisa do quintal com o terreno vizinho, estando apenas a dois metros de altura do nível do chão.
O mais estranho foi ver que no centro da laje havia uma árvore relativamente grande, com as raízes fortemente cravadas no concreto. De início acreditei que fosse uma paineira de mais ou menos 20m, mas por algum motivo não fixei minha atenção na imagem, por mais esdrúxula que fosse. Decidi olhar para as palmas de minhas mãos. Olhei fixamente para elas, delineei seus contornos e elas estavam bem uniformes. Quis assegurar que realmente eram as minhas mãos. Lembrei-me de procurar uma pinta preta na palma da mão esquerda, mas para minha decepção não encontrei. Virei as costas das minhas mãos, eram exatamente como no físico, tinha certeza de que eram elas, pude constatar os detalhes. Então me lembrei de uma tatuagem localizada no antebraço esquerdo. Puxei a manga da blusa e lá estava a tatuagem, igual à do físico. Isso me deixou mais lúcido e satisfeito. Então algo me chamou a atenção do lado direito da árvore: Ao seu lado havia uma caixa-d’água de 1000 litros.
Resolvi usar a técnica tolteca de “isolar os itens do Sonhar”. Segui o procedimento. Olhei fixamente para a caixa-d’água por alguns instantes; como ela não desintegrou, voltei minha atenção para as palmas de minhas mãos. Senti estar lúcido e sóbrio. Voltei minha visão para a caixa-d’água, mas de repente a imagem da árvore ao seu lado me atraiu. Verifiquei o quanto o “ser” do reino vegetal que estava à minha frente era estranho. Embora tivesse a descrição de uma árvore tal qual concebemos em nosso mundo tridimensional, não se parecia exatamente com uma. Sua estrutura era a mesma de uma árvore, mas seu aspecto era extraterreno. Na verdade, eu não a observava em sua totalidade, apenas me fixava na parte inferior do tronco, partindo das raízes até dois terços dos galhos e folhas, deixando de fora a copa.
O que me chamou muito a atenção foi o movimento ondulatório que via no centro de seu tronco. Embora sua aparência fosse sólida e rude, a parte frontal no centro do tronco movia-se à semelhança de pequenas e sutis ondas. Parecia não ter coesão naquele ponto. Isso me deixou curioso, me fazendo aproximar dela. Parei a três palmos de distância. Tão próximo, as ondulações cessaram, parecia que naquela curta distância o ponto flexível se tornava rijo e coeso.
Fiquei absorvido pelo aspecto peculiar da árvore. Em toda extensão de seu tronco encontravam-se pintas brancas e redondas, como esferas do tamanho de uma bola de tênis. Eram centenas de bolas brancas em seu tronco que lhe acentuavam ainda mais o aspecto “alienígena”. Soube, por intuição, que a estranha árvore era um ser gerador de energia. Então me lembrei da técnica tolteca de ver energia no “Sonhar”.
Gritei em voz alta meu intento de querer ver energia. Em seguida, de forma atabalhoada, apontei meu dedo mindinho da mão esquerda em direção à árvore e disse duas vezes: “Eu quero ver energia... Quero ver energia”!
Quando ia verbalizar pela terceira a vez o intento, alguma coisa em mim mudou, tive a intuição de que algo aconteceria. Algo que nunca tinha acontecido em minhas outras tentativas de ver energia no “sonhar”. Fiquei alerta e com cuidado resolvi parar. Prestei bem atenção no formato da árvore, ela parecia um pouco maior e mais embrutecida do que antes. Achei estranho.
Ocorreu-me a idéia de que se continuasse com a técnica seria absorvido e/ou transportado para o lugar de origem da árvore. Vinha em minha mente a lembrança de várias experiências de Carlos Castañeda no “sonhar” com os batedores dos seres inorgânicos transportando-o para as esferas inconcebíveis desses seres. Tive receio de entrar em uma situação para a qual realmente não estava apto, nem a fim. Não pretendia ser idiota o bastante para entrar numa fria. Mudei minha atitude para com a árvore. Levantei-me e comecei a acariciá-la dando uma volta ao redor do seu tronco. Literalmente mudei de tática, passei a mão por toda sua extensão e conversei com ela. Disse-lhe que lhe tinha amor, que sinceramente gostava do reino vegetal e que nós éramos criações de “Deus”.
De repente a árvore reagiu. Ela novamente cresceu. Não a vi crescendo diante de mim, simplesmente já estava maior e grotescamente rude quando voltei minha atenção para ela. Olhei para as sombras de seus galhos projetados na laje, eram indefinidos e não coincidiam com seu formato. Fechei novamente os olhos num piscar lento mas não demorado e, ao abri-los, o que vi diante de mim foi algo esdrúxulo e assombroso: A árvore estava com o triplo do seu tamanho normal, talvez 60m de altura e uma largura estupenda. Tinha uma aparência alienígena e grotesca, era vigorosa e rudemente embrutecida.
Parecia uma anomalia. Seu tronco aparentava estar cheio de energia vital, assemelhando-se ao braço musculoso hipertrofiado de um halterofilista gigante. Até nos contornos do tronco distorcido parecia haver veias estufadas e dilatadas.
Achei aquilo esquisito e exagerado, tinha a impressão de que ela estava se nutrindo de algo que a deixava em tal condição. Passei a captar uma sensação real de perigo iminente. Tive certeza que a árvore era uma projeção alienígena de algum ser inorgânico. Não pensei duas vezes, pulei da laje até o chão.
Na minha frente se estendia um muro de uns seis metros de altura que separava o quintal da rua. Dei um salto elástico e segurei no topo do muro.
Cheguei mesmo a ter a sensação física em meus braços e mãos pelo impacto com o concreto do muro. Fiz um esforço mínimo e pulei para o outro lado alcançando a rua. Corri rapidamente. Pensei em voar, mas a apreensão desestabilizou meu corpo psicossomático, deixando-o pesado. Pressentia de alguma forma que poderia ser perseguido pela árvore, ou seja lá o que fosse.
Então usei meus “longos passos”, mas mesmo assim me senti sólido e fisicamente cansado. Continuei correndo até meus sentidos ficarem quase físicos a ponto de acreditar que estava usando meu corpo orgânico. Aos poucos fui perdendo a consciência até acordar.
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