sábado, 22 de setembro de 2012

Ayahuasca - Integrado à Tudo




Arte: Pablo Amaringo

Minha primeira experiência com a Ayahuasca (Dai-me) aconteceu no dia 02/02/2002. O trabalho foi realizado na "Igreja" Cé da lua Cheia, localizado em um sítio na região de itapecerica da Serra no extremo sul da capital de São Paulo.  

Coincidentemente, era data de comemoração de aniversário da "Igreja" e trabalho de Lua Cheia, no qual se utilizaria o Hinário da Àguia e, detalhe: Todo trabalho seria feito num bailado de início ao fim. Com uma duração de 10 horas. Programado para começar às 15:00 do sábado até a madrugada do domingo. No entanto, o trabalho atrassou e começou às 16: 30 do horário de verão. 

Já havia alguns meses que combinava com uma amiga, por telefone, para participar do trabalho do Santo Dai-me. Conheci essa amiga por intermédio de outro amigo que me deu seu telefone e, assim, passamos a interagir numa naturalidade tão peculiar como se já nos conhecessemos pessoalmente. 

Ela me deixou o endereço de um dos seus amigos para que eu fosse com ele e mais outros dois para a "Igreja" do Santo Dai-me.
Quando cheguei ao Apto, fui bem recebido por Antônio, um professor de História e fardado do Santo Dai-me.

Logo, chegou um amigo dele, que daria-nos caroa e que há anos já tomava o chá.

Pessoas muito receptivas que me passaram uma sensação muito boa de familiaridade.  

A ida até Itapecerica da Serra foi tranquila. Mata Atlântica, sol e ar úmido.Chegamos a um pequeno sítio com uma "Igreja" localizada numa parte plana do terreno. Já passava das 13:00 horas e já tinha muitas pessoas lá. Meus novos amigos me levaram ao interior da "Ingreja" onde estava Flávia - minha amiga, no qual combinava por telefone para conseguir esse tão esperado trabalho - conhecê-la pessoalmente só confirmou a naturalidade de nossa afinidade. Ambos tivemos a impressão que nos conhecíamos a muito tempo. Estranhezas à parte, essa familiaridade era tão óbvia que foi difícil de negar. 

Já passara do tempo para iniciar os trabalhos e tudo indicava que começaria um pouco depois do previsto. Aproveitei para ficar observando as gotas da chuva de verão que começava a tomar conta da Mata Atlântica ao redor. O ar ficou muito mais úmido e meus pulmões agradeciam dando longas inaladas de ar puro. Sentia-me muito bem naquele local e também com a energia das pessoas que ali encontravam.

A "Igreja" já estava completamente lotada às 16:30 quando se ouviu o primeiro toque de sino anunciando o início do trabalho. As mulheres ficavam num lado do salão e os homens no outro, enquanto no centro ficava a mesa com o "xamã/padrinho" e musicos. Mas, a "Igreja" estava tão lotada que não dava para vê-los lá no centro do salão. Apenas ouvia-se suas vozes.

Deu-se início a sessão com umas canções meio cristãs, para meu espanto, mas eram bonitas. Fez se uma fila para tomar o Dai-me de uma lado dos homens e outra do lado das mulheres. 
Estava na maior expectativa. Ficava imaginando as Visões ou "Mirações" fantásticas que poderia ter. Tomei o primeiro gole do chá. Um gosto um misto de amagargo com azedo, quase vinagrento, porém nada de "horrível" como muitos diziam. Falar a verdade até gostei do sabor, achei tolerável.

Passando-se algum tempo, entre algumas canções e bailados, fiquei observando-me a todo tempo para ver se fazia presente algum tipo de percepção extra-sensorial, mas nada percebia. Continuei tranquilo, bailando e me concentrando nas canções, acreditando que tudo era questão de tempo para o chá fizesse seu efeito.

Duas horas depois e nenhum efeito perceptivo se mostrava. Olhava as pessoas naquela tarde de horário de verão, pareciam todas bem focadas. Imaginei que precisava de maior foco. Então fez-se nova chamada para a segunda dose do chá. E fui na esperança que mais uma dose ajudaria a abrir minha "mente". O gosto foi mais ou menos parecido com o primeiro, porém a bebida parecia um pouco mais concentrada.

Continuei bailando e cantando os hinos. Porém, nenhum estado alterado se fazia presente em mim. Comecei a ficar ansioso para obter algum resultado psicoativo. Mas, como não sentia nada de diferente, passei a questionar sobre o "poder" psicodélico da bebida. 

Mais meia hora havia se passado e nada. Nenhum efeito considerável. Uma frustração foi me abatendo e fiquei meio triste, enquanto olhava as pessoas ao meu redor que pareciam já sentirem os efeitos do chá. Entrei num estado de ponderações mentais relacionados à fé. Em outras palavras,  pensava que talvez fosse preciso ter muita fé para se conseguir algum tipo de "Miração" ou "Visões" com o chá. Achei-me inapto por não ser uma pessoa religiosa. Estranhamente, não tinha percebido como essas ponderações mentais eram tão claras na minha mente; elas vinham ou se apresentavam tão espontaneamente, que nem sequer imaginei que poderiam ser um pequeno efeito do chá que já se fazia efeito na minha psique.

Procurei lembrar-me da minha busca xamânica, para contrapor minha frustração, pois em todas minhas informações etnobotânicas e sobre estados alterados da consciência era unânime de que o efeito dependia muito de vários outros fatores para se apresentar. 

Contudo, meu corpo não conseguia deixar de demostrar meu "aborrecimento" e decepção, estava crente de que o efeito não agiria sobre mim. Então, sem perceber cruzei os braços enquanto bailava pra lá e pra cá, acompanhado o ritimo dos maracás dos hinários junto com as pessoas. De repente, um dos fardados vem para perto de mim, com uma conchão cheia de Sálvia em brasas para defumação que espalhava nas pessoas com uma pena de Àguia. Ele se aproximou de mim e, enquanto espalhava a fumaça, cochicou em meus ouvidos para que eu descruzasse os braços. Por que segundo ele a "energia" ficava presa dentro de mim, quando agia dequele modo. E era preciso daixar a "energia" fluir. 

Automaticamente obedeci, não porque concordava com ele, mas pela sensação estranha que sua proximidade despertou em meu corpo. Assim que ele chegou perto de mim meu corpo começou a apresentar uma vibração estranha. Foi algo muito sensorial. Aquilo me despertou do meu desapontamento, de tal modo, que percebi que algo em mim estava diferente. Não sabia por em palavras ou definir o que quer que fosse. No entanto, era mais que evidente que uma linha tênue tinha se quebrado. 

Fiquei com essa sensação de alerta até o término da primeira sessão do trabalho.

Ao tocar o sino para a pausa até a segunda sessão. As pessoas se dispersaram, cada qual se "refugiou" para um canto, algumas foram para junto da fogueira. E, eu assim o fiz. Encontrei meus novos amigos se aquecendo ao redor do fogo. Todos sem exceção estavam radiantes se abraçavam com tanta alegria que até achei estranho o tamanho da comoção. Me abraçaram também e correspodi da minha forma ao abraços calorosos deles. Todos conversavam muito empolgados sobre a primeira sessão do trabalho.

Quando me questionaram sobre minhas impressões, não economizei palavras para expressar-lhes minha opinião e minhas ponderações sobre o efeito do chá que mal se apresentou a mim. Quando percebi estava quase que criticando o sistema de crenças ou o método dos trabalhos, não de forma indelicada ou inconveniente, mas puramente intelectual. Todos ouviram sem julgamentos e pareciam saber que tudo era  uma questão de tempo para que meu lado racional viesse a desabar, porém não falaram nada à respeito. 

Apenas minha amiga Flávia que não se conteve e me disse algo sorrindo e gesticulando com as mãos para eu aguardar até a segunda sessão, porque, ainda era cedo para conclusões. Segundo ela, deveria esperar parar ver o que me aguardava na segunda parte do trabalho que seria mais intensa. Concordei com a cabeça numa falsa esperança que algo relamente acontecesse.

Toca o sino! Anunciando o início da segunda sessão do trabalho. Todos nos desejamos um bom trabalho e cada um segui em silêncio até o salão da "Igreja". Quando entrei já tinha uma nova fila para mais uma dose do chá. Tomei-o e dessa vez intentei que o Dai-me se manifestasse de forma integral a mim. O sabor estava mais forte e mais concentrado.

Após, alguns minutos bailando. Tinha sempre a estranha impressão de que algo me chamava à atenção do lado de fora, não sei o que, mas era como se um maneirismo irressistível fizesse eu ficar sempre voltando minha atenção até a mata. 

Alguns minutos depois e meu corpo voltou a vibrar estranhamente como da primeira vez. Só que com a diferença que sentia minhas pernas mais moles ou relaxadas. Continuava estremamente racional, medindo o tempo e qualquer tipo de sensação incomum que pudesse se apresentar em meu corpo e mente. De repente, um rapaz que bailava próximo a mim chamou minha atenção. Não entendia o por quê. Mas, algo sempre fazia-me olhar pra ele e percebia que ele estava sempre rindo de algo ou alguma coisa à esmo. Achei esquisito o jeito dele. Se fosse em qualquer outra situação nem ligaria ou não daria atenção, mas algo fazia com que sempre voltasse a prestar atenção ao que acontecia com ele ou com sua reação estranha de rir de algo ou de alguma coisa sem motivo.

Depois de um tempo, esse rapaz saiu do salão e foi até o mato e ensaio um vômito. Parece que vomitou um pouco, mas logo voltou todo entusiasmado e com cara de "bobo".
Nesse interím, comecei a sentir uma molesa em minhas pernas e um topor no meu corpo. Sentia-me leve. Estranhamente leve. Uma sensação de que minhas pernas fossem de borracha. Um pequeno formigamento se apoderou do meu corpo. Nada exagerado, porém muito vívido. Uma sensação tão refrescante começou a me invadir que uma paz, leve e tênue pairou sobre alguma parte de mim, algo que a muito tempo não sentia.

Foi nesse ponto que passei a sentir uma "presença" do meu lado direito, porém  um pouco atrás de mim, próximo ao meu ombro, quase me tocando. Não consegui ver, porém era uma sensação nítida. E aquilo foi me absorvendo de tal modo que disparei a rir e, ao mesmo tempo, procurava não ficar histérico com a sensação estranha que me forçava a rir. Nossa! Como sentia vontade de rir até rolar no chão. Mas, me controlava, pois tinha que me focar no trabalho. Foi nesse momento que percebi o quanto minha mente estava cristalina e meu corpo numa leveza extraordinária. 

De repente, ficou claro pra mim que estava no mesmo estado "abobado" que se encontrava aquele rapaz no qual não conseguia desfocar minha atrenção. Senti que, o que fosse que estava lhe influênciando, agora estava também a mim. E não me importava porque era uma sensação "boa", de descontração, leveza e hilariante. Fiquei consciente de que estava num estado "Xamânico de Consciência", pois sentia o efeito da planta da Ayahuasca ou sua Consciência interagir comigo, como numa simbiose. Uma alegria imensa aflorou de mim. os hinários ficaram tão altos ou minha audição ficou aguçada, de tal modo, que podia de longe ouvir o farfalhar das saias e trajes das mulheres que dançavam frenéticamente numa alegria contagiante.

Olhei para as plantas e para as àrvores e elas pareciam estranhamente vivas! Elas se moviam e bailavam junto e, em harmonia aos ritimos dos hinários. Num instante, tudo foi se transfigurando e minha visão ficou tão aguçada e exótica que parecia estar num momento mágico. Num mundo de contos de Fadas e Duendes. Tudo era movimento, melodias e ritimos. Tudo sem nenhuma execção se apresentava vívido. As coisas pareciam todas vivas e fluidas. As cores das plantas eram tão nítidas e fortes que me absorviam. 

O reino vegetal parecia travar um diálogo silencioso. Algumas plantas pareciam rir, enquanto outras pareciam criar rostos, formas, olhinhos, bocas e sorrisos. Uma felicidade indescritível me abateu. Senti-me tão feliz e com uma afinidade tão grande com a floresta que resolvi sair do salão e olhar de perto as árvores a mata.

Ao sair, alguns fardado, logo vieram próximo de mim para ver se estava tudo bem, nem precisei falar nada, eles perceberam o meu estado e ficaram um pouco distante.
Ao olhar às plantas e as àrvores podia perceber que elas eram algo fluídas, não pareciam tão sólidas como costumamos perceber. Se apresentavam algo porosas e cheias de vida. Pareciam personificar personalidades individuais.

Um encanto me dominou por completo enquanto uma lucidez cristalina não deixava que eu expressa-se uma palavra se quer. Nem que fosse de assombro. Sentia uma "Vontade" inrressitível de testemunhar tudo. Porque tudo parecia incrivelmente vivo. E, foi nesse momento que um homem se aproximou perto de mim. 

Parecia um dos fardados, mas não estava bem certo disso. Ele parecia saber de algo que acontecia comigo. Estranhamente sentia que ele sabia bem o que se passava no meu íntimo. Ele olhou pra mim e acenou com a cabeça, também acenei e ele se fez bem próximo. 

Sentia que queria falar algo pra ele, mas não sabia o que. E percebia que ele sentia isso. Então, ele me perguntou se estava tudo bem comigo. Respondi que sim. Ficamos um tempo quietos contemplando as matas e o horizonte. Estava maravilhado com tudo e sabia em alguma parte de mim, que aquele homem sabia muito bem o que se passava. Gostaria tanto de poder expressar aquilo pra ele, mas não imagina como.

O homem olhou pra mim com uma fisionômia serena e disse:  

Gostoso  tudo isso né!

Olhei pra ele e tentei responder, mas não consegui. Ele ensaiou um leve sorriso e disse: Faça um exercíco de respiração. Em seguida me mostrou a forma adequada de respirar. Aspirando o ar intensamente e enchendo os pulmões e depois soltando levemente de forma compassada. Fiz o que ele me sugeriu. E, então perguntei :
- Como é seu nome? 

Ele respondeu que chamava-se Renato e me ofereceu um pedaço de papel higiênico. Na verdade, nem sabia que era papel higiênico dado a minha "empolgação" e, não sabia o que fazer com aquilo nem porque ele tinha me dado. Assim, num ato instintivo comecei a lipar o nariz com o papel e de forma rápida tentei expressar o que sentia.

Falei-lhe de como me sentia bem e que não tinha palavras pra definir ou expressar tudo aquilo, nem o que sentia nem o que via. 

Era algo incrível que estava acontecendo comigo e não tinha nenhuma maneira de por em palavras o que presenciava.

Renato fez um gesto de consentir com a cabeça e retrucou: Pois é ... é assim que as coisas são de fato. Sei do que você ta querendo dizer. E está tudo aí, sempre esteve. Aproveite, vá, sinta tudo isso!

Simplesmente depois dessas palavras, tive a certeza de que estavamos falando da mesma coisa, e que ele sentia e sabia de fato o que eu estava sentindo. Fiquei muito feliz e o agradeci "telepaticamente", não sei como fiz, mas tive certeza que ele captou, pois sorriu uma concordância.

Saí e comecei a caminhar mais adiante e fiquei bem próximo às àrvores num jubilo maravilhoso. Olhei para o horizonte para uma cadeia de montanhas ao longe e ...de repente; Vi e senti, as montanhas se moverem. Depois, não só as montanhas, mas também as àrvores e o chão. Quando dei por mim o planeta estava se movendo. Pensei que fosse minha respiração que estava criando uma "ilusão" perceptiva. Mas, vi que quando percebia o movimento não estava respirando normalmente. 

Foi nesse interím, que o inacreditavel aconteceu. Vi e senti todo planeta Terra respirando. A Gaya estava respirando como um imenso pulmão. Como um imenso ser vivo. A Terra estava viva e respirava, assim como eu respirava enchendo os pulmões de ar e depois exalando. 

Essa percepção foi tão real e tão incontestável que comecei a chorar, não de emoção sentimentalóide, mas de pura alegria e amor e gratidão ao que estava presenciando. Comecei a falar a esmo comigo mesmo em espanto. Repetia diversas vezes as mesmas frases: - Eles tinham razão. Eles estavam certos! Meu Deus é verdade! Os povos nativos sempre souberam! A Terra está viva, ela é nossa Mãe. Eles sempre souberam. Agora entendo e sei que é verdade.

Enquanto falava e as lagrimas corriam soltas no meu rosto, senti uma gratidão tão imensa por estar vivo e estar vivendo aquele momento tão precioso e estar aqui nesse planeta maravilhoso. E como sentia Amor por essa Terra, Mãe Terra Querida. Era algo sem testemunhos, era uma Amor incondicional, uma graditão sem palavras.

Foi quando uma força estranha me impulsionou a ir próximo da fogueira. Olhei para adiante e, perto do fogo tinha um homem com os braços abertos, parecia que estava se transformando numa àrvore de tão enraizado que seu corpo se expressava. Fui, para próximo da fogueira. O homem saiu de seu "transe" e sorrindo voltou para o salão. Uma força invisível me forçava a abaixar. Assim, sentei em cima da minha perna esquerda, enquanto deixei minha perna direita ajoelhada em frente ao meu peito.

Olhei para o céu e a abóboda da noite fazia -se imensa. As estrelas se moviam, pareciam bailar seguindo o ritimos do hinários ao longe.

Comecei a sentir uma sensação muito forte de ancestralidade. Semelhante a um eco longincuo que reverberava dentro de mim. 

Senti uma vibração na minha garganta bem no ponto do chacra larígeno e, em seguida, uma presença se apoderando da minha consciência. Senti claramente a Consciência de um "índio" em mim. 

Era a mesma presença que há muitos anos se apresentava em minhas projeções extrafísicas. 

Ele me intuiu uma canção monótona e um tanto triste que cantei com a parte mais profunda da minha alma.

Quando terminei ou sai do "pseudo -transe" minha mente estava lúcida, porém sentia que o efeito do chá tinha diminuido drasticamente. Me levantei feliz da vida e voltei ao salão. Estava uma alegria contagiante la dentro. Voltei empolgado e fui tomar mais um copo de Ayahuasca.

Comecei a bailar e logo o efeito voltou e, dessa vez, mais forte ainda. Me sentia tão leve que parecia que podia voar. Tinha a impressão de não estar pisando mais no chão, mas sim, em cascas de ovos que impediam de tocar o solo. Percebia claramente uma corrente espiralada que saia do salão e fluia para cima. E dava-me a impressão que as canções conduziam o seu fluir.

E, nesse instante, senti meu corpo fluir na corrente espiralada. Meu corpo foi ficando cada vez mais leve até  o ponto de perder completamente a sensação corporal e sentir-me apenas como uma neblina consciente. Uma neblina espiralada. 

Sentia em alguma parte bem distante de mim, algo que se assemelhava à miriádes de "eus" como pequenas ilhas desassociadas umas das outras e, ao mesmo tempo, interligadas. 

Algo em mim, me dava a sensação de que eram parte de meu Ego; que estavam inoperantes naquele momento. Enquanto meu verdadeiro Ser era pura Consciência que girava numa neblina espiralada autoconsciente, presente no Aqui e Agora. Onde não existia passado nem futuro. Meu Ser era apenas aquele momento e aquele momento presente era Eterno. 

E, assim me sentia, Eterno. Aqui e Agora. Uma neblina espiralando e fluindo e fluindo.

Minha alegria era tamanha que entendi que estava compreendendo o verdadeiro sentido da palavra "Extase".

Sim, estava em êxtase! Sentia uma felicidade tão jubilosa que nada mais me importava. Se morrese naquele momento, não me importaria, porque estava intensamente feliz. Contudo, a idéia da morte pra mim, naquele estado de Ser, era algo tão sem sentido e desprovido de contexto, pois não tinha nada a ver com uma idéia de separação, ao contrário, se a morte fosse algo comparado ao que estava experiênciando ela só pderia ser algo unificador  e/ou transcendente.

Sentia claramente que, seja lá o que fosse, não era a morte de um corpo físico que temíamos, mas, sim a dissipação do Ego. Ou daquilo que achamos que somos. O Ego morre de medo de deixar de existir.

Depois de todas essas "compreensões" minha consciência foi se expandindo de tal modo que comecei a sentir-me integrado a Tudo. 

Não sentia mais diferença entre meu ser ou de um inseto, nem de uma àrvore. Minha Consciência era uma neblina espiralada, ao mesmo tempo, que era uníssimo com a terra, as folhas das plantas, o vento, a noite. Eu era a poeira do chão, a formiga que carregava as folhas, assim como a folha carregada por ela; estava conectado com as estrelas, com o próprio universo, com minhas células; sentia-me  com se fosse o minúsculo grão de areia que era varrido pelo vento morno da noite e também o vento morno da noite cheio de gotículas de água. Não me sentia separado de nada. Ficou me claro que a sensação de solidão era apenas uma ilusão mental criada pela Mente. Podia ficar sozinho, mas meu Ser compreendia que nunca estaria só. Nem poderia porque estava integrado a Tudo. 

Do mesmo modo que o êxtase começou ele acabou repentinamente.

Olhei  para o salão e as pessoas estavam todas numa energia exuberante. Cantando e bailando numa força incrível. 

Resolvi tomar mais uma dose de Dai-me. Continuei- a bailar e cantar os hinos. Em alguns momentos olhava para as mulheres à nossa frente e via rostos exóticos e surreais que pareciam se distorcer criando formas "elficas" e estranhas. Ria, sozinho comigo. 

Depois, miriádes de luzes coloridas invadiram meu campo de visão. 

E algo se abriu em meu peito. Como se meu chacra cardíaco se liberasse de algo presso nele. E, enquanto as luzes multicoloridas expliodiam em minha mente, uma enchorrada de lágrimas jorravam de meus olhos. Não eram lagrimas de tristeza, antes, eram lágrimas de limpeza. Como se precissa-se expeli-las de dentro pra fora de mim. Nesse interím, minhas pernas já estava bambas. Me sentia o próprio homem - borracha. Sentei-me um momento numa cadeira, mas, logo veio um fardado pedindo-me pra levantar. Levantei e percebi que as lágrimas caiam dos meus olhos mesmo sem estar com vontade de chorar.

Depois da chuva de lágrimas, senti-me mas sóbrio e alinhado. Me concentrei totalmente nos trabalho e nos hinários e cantei alegremente de forma forte e exprerssiva. A todo momento parecia que uma força me conduzia, uma presença ancentral. E algumas pessoas que bailava próximo percebia e sorriam e até se aproximaram para bailar junto a mim. Todos estavam numa felicidade sem igual.

Foi quando uma outra visão se fez. Percebi claramente uma espécie de pelicula muito tênue - que lembrava a bolinhas de sabão - se superpondo diante de mim. Em outras palavras, era como uma parede finíssima entre a realidade tridimensional e outra mais "fina" que se coincidiam uma na outra. Essa camada tênue apresentava iridescência e de lá percebia alguém que se projetava até o limite da pelicula e tentava transpassá-la e assim deixava a marca de sua forma na pelicula. Era a forma de uma mulher, uma índia que também dançava em ritimo aos hinários e usava uma maracá. A visão era tão psicodélica que me fazia gargalhar.

Depois, essa visão se perdeu e deu lugar a outra visão surreal. Olhei para cima no teto da "Igreja" e vi um ser humano muito estranho e belo. Era uma "mulher" que "descia" levemente até o salão onde todos bailavam e sua imagem sobrepunha as pessoas como se fosse diáfana. Ela vestia uma espécie de tecido muito fino e delicado. 

Parecia muito um manto que cobria todo seu corpo. Seus cabelos eram claros e longos até abaixo dos ombros. Suas orelhas eram pontiagudas e se projetavam para fora dos cabelos e seus olhos eram incrivelmente grande, belos e selvagens. Ela abriu seus braços lateralmente e deles saiu um vento forte que veio em minha direção. Deixei que o vento batesse em mim sem resistência, mas quando ele transpassou-me, senti claramente e ouvi vozes de crianças rindo zombeteiramente numa alegria irradiante e inocente enquanto o vento me transpassava. Tive a sensação clara que o vento era crianças, mas não crianças humanas, mas uma espécie de
"Enteal", assim como a mulher que lembrava um "Elfo".

As Visões iam e viam. Os hinários pareciam intermináveis e queríamos que nunca fossem. Pois, era unânime entre todos como era gostoso aquela peculiar sensação de que a musica não acabaria nunca.

O efeito do chá já tinha diminuido o bastante. E o trabalho também estava no fim. As pessoas todas em júbilo. 

Ao chegar o témino do trabalho, todos se abraçaram, assobiaram, gritaram e bateram palmas. Se já se passava das 03: 00 da madrugado do domingo.

Encontrei com meu amigos na fogueira. Estava muito feliz. Todos estavamos e perceberam que eu tive uma boa experiência. Nos abraçamos e rimos muito ao comentarmos sobre acasiões cômicas que aconteceu no desenrolar do trabalho e das besteiras que cada um contava das coisas que aconteciam lá. Coisas mundanas que nos faziam rir a beça. Como se fosse para compensar toda a experiência profunda que todos passamos.

Minha amiga Flávia me perguntou se tinha gostado e se tinha mudado de opinião. Lhe respondi numa empolgação fora do comum que tinha sido o momento mais feliz da minha e vida e que estava me sentindo hiper-bem. Todos riram com meu comentário espontâneo.

Esperamos amanhecer enquanto ficavamos conversando na fogueira e deixando claro a familiaridade que todos sentimos uns com os outros.

Quando já estavamos no carro seguindo pela estrada de terra e passando por entre sítios e chácaras e muita mata atlântica, recebemos um presente do Espírito. 

Poder contemplar o vôo de um lindo e grande karkara em todo seu explendor e liberdade. Ele voava tão próximo e tão livre e liberto que todos paramos pra observá-lo da janela do carro e como que
interligados "telepaticamente" uns com os outros repetimos as mesmas palavras todos juntos

Ahhhh ...que privilêgio ser um pássaro! 


11 comentários:

  1. Senti toda a sua emoção neste texto, a ayahuasca é uma mestra maravilhosa, nos mostra o que realmente somos, nos desvela de nosso falso eu dentro daquela verdade que é a simbiose com o chá. Lindo Tori, fiquei emocionado aqui, em nostalgia lembrando de minhas próprias iluminações, e como nos esquecemos de ser sempre daquele jeito, livres, conscientes.

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  2. Opa! Prazer vê-lo aqui Amigo Mensageiro.

    É verdade, caro amigo, essa simbiose tão esquecida pela "civilização" essa des-conexão que nos faz estrangeiros de nós mesmos. Quando cai os véus diáfanos e podemos ver novamente com clareza e olharmos quem somos de fato, percebemos o quão rudes e falso nos tornamos em fixarmos em nossa auto-reflexão. Estar livre e integrado e ligado à Terra/Mãe nos renova para a maravilha de sermos efêmeros e desenvolve um senso de gratidão por estar vivo nessa terra maravilhosa, ou como diria o Velho Nagual: Nesse mundo insondável, misteriosos, assombroso e maravilhoso!
    Intento amigo!

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  3. Amor, não tenho nem palavras para descrever o arroubo que senti ao ler seu relato nesta madrugada...!!

    Deuses, a sensação de já te conhecer há tanto tempo só fica mais nítida a cada dia, amado Tori...!

    Seu relato, ainda VIVO e tão impregnado de Sua Energia [sim, os dizeres têm "vida", pois são projeções de nossa constituição energética, de modo que refletem todo jorrar de nosso Ser quando escrevemos...], caiu no meu "peito" como uma bomba de êxtase. A cada frase, cada passo dado por você, cada sensação, percepção, tudo foi me tocando de forma tão profunda que meu P.A. sensivelmente foi se movendo... Sim, estive bailando com você, vi o "mar" de estrelas a me engolfar com suas ondas galácticas inacreditavelmente brilhantes, e todas as formas sinuosas, todos os cheiros e cores a me rodear.

    Senti o ar puro da floresta penetrando meus pulmões, SUAS LÁGRIMAS se fundiram com as minhas aqui e agora. Nossa!

    "E, assim me sentia Eterno. Aqui e Agora. Uma neblina espiralando e fluindo e fluindo". Sim, meu amor, assim eu me senti: eterna, um espiral liquefeito, tal como AQUI E AGORA, fluindo, sempre fluindo...!

    Nossa, eu verdadeiramente me transportei para a minha primeira experiência com a Ayahuasca, e você descreveu tão bem, de forma simples e mágica, as minhas "sensações" primeiras de que tudo está VIVO e INTERLIGADO.
    Também senti a Terra inteira respirar! Tudo em balanço e vibrante! Alegria sem fim!!! Muitas cores e uma sensação de gratidão expressada por nada melhor do que lágrimas!!!

    Você me fez chorar, amor, pois tive a impressão de que você vasculhou no baú de minhas memórias e experienciamentos e fez um resumo sobre tudo o que vivenciei: quando toda a minha descrição de mundo foi por água abaixo e tudo ficou tão claro, entendi diretamente tudo e compreendi como o mundo é MÁGICO, ASSOMBROSO E, POR ISSO MESMO, MARAVILHOSO!!

    Você foi no âmago do meu Ser. Esse seu relato disparou forte e nitidamente meu P.A. se moveu... Estou em estado de enlevo, de encantamento, deslumbrada por ESTAR VIVA!

    São exatamente 3:40, e os pássaros da madrugada estão a cantar alegremente, parecem ouvir meu choro de arrebatamento e dizer: "Sim, minha querida, o mundo é algo mesmo fenomenal e mágico. SINTA! Cante suavemente conosco...Isso, assim!". Tudo é bom e belo agora, amor! Estou num estado epifânico! Puro júbilo! Nossa! As lágrimas não cessam...!

    Tudo que posso dizer é: Gratidão, meu amor, por "devolver" a mim tudo que vivi na minha primeira Odisséia com a amada Ayahuasca!

    Te amo, de forma pura e sem nada esperar, Ser misterioso que me encantou!

    Espero estar viva para celebrarmos juntos no Tonal o milagre de Sermos nesse mundo misterioso o que já somos no Nagual!

    Intento!

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    1. Amada Tiane, Flor Selvagem, indômita mulher...Muitas vezes brisa noutras furiosa furacão!

      Hoje em encanto e receptivo ao teu Sentir, posso dizer-te com o mais profundo do meu coração em Sol: AMO TE Mulher Vendaval que devastou meu mundo, me enlouqueceu e me lançou em um redemoinho de intensidade, paixão, aventuras e o mais incrível Amor!

      Sinta! Sinta querida, com todo teu radiante Ser...liquefeita! Com suas gargalhadas borbulhantes e teus belos olhos brilhantes. Oh! Que beleza tão singular, vejo irradiar dos olhos teus!

      Gratidão! Gratidão, Amada, amor da minha vida pelo teu Sentir, pela tua sensibilidade perceptiva, pela tuas profundas, belas e filosóficas palavras que expressam a poética capaz de nos transportar para o Desconhecido. Para aquilo que é Não Dizível,indescritível, porém podemos alcançar através de uma ínfima sensação tal Mistério!

      Mistério que, ainda, és para mim! Mistério de múltiplas mudanças. Movimento liquefeito de loucuras inconstantes. Da paixão, do Amor e a gratidão que sinto por ter lhe conhecido!

      Tatiane Alvares, saiba que te amo muito, nunca lhe esqueci. Tu és a mulher que sempre quis... mulher que quero seguir junto por esse mundo misterioso, entrelaçados como Neblinas Espiraladas fluindo para o Infinito.

      Vejo a ti, girando no ar, no Mar/Mãe como serpente azulada, como mulher amada que contemplo em meus serenos olhos.

      Estarei contigo, desde o Nagual ao Tonal. Em meus Sonhos lhe encontro. Logo em Tonal estaremos juntos.

      A vida é misteriosa, pois sempre nos reserva desafios, encontros e desencontros. Mas hoje, e a cada novo dia, sinto a ressurreição, o renascimento e a certeza de que contigo caminharei!

      Intento meu Grande Amor!

      Bjs mágicos Castanha de Caju! Te Amo!

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  4. Maravilhoso! Tive essa experiencia em 2011 e infelizmente meu EGO tem me vencido e não me deixou voltar mais por medo, foi algo tão intenso que pensei que estivesse ficando louca. Mas hoje venho me preparando para voltar, sonho com isso, sinto saudades de onde estivesse e depois da primeira conexão nada mais foi igual, minha vida mudou, minha conexão com o divino nunca mais foi embora. Que LINDO o seu texto, revivi tudo denovo. Infelizmente minha experiência foi bem dificil por que tive um conflito MUITO grande com meu EGO que é gigante, e agora, mais preparada e consciente do Ego, depois de fazer Kabbalah e enteder muito mais sobre o assunto ,quero e VOU voltar a Ayahuasca! Obrigada pelo texto e por me promover minutinhos mágicos!

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  5. Amada Tati, grato pela sua existência ! Tudo isso só demostra a conexão linda que existe entre nossos seres! te amo!

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  6. Unknown...Grato pelo cometário! Realmente a grande barreira é nosso EGO. Quando ele sente que está se dissolvendo, luta e resiste, pois não quer morrer para dar lugar ao nosso verdadeiro Ser! Intento!

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  7. Muito bela sua versão, você fez o caminho percorrido pela sensação de uma viagem com volta, onde cada passo de volta se torna mais cativante ainda.Cada seção mantinha o andamento do sequente trabalho, como uma ligadura, como em um sonho por capítulo. O nosso ser foi legado de muitas sensações, que o tempo ou alguma repreensão nos tirou, pois o próprio alimento, já é para ter sua sensação de êxtase, no momento da digestão, mas de alguma maneira, deve haver uma espécie de alimento para corpo e alma, em um só tempo e momento.O nosso corpo produz substâncias químicas capaz de sensações que flutuam o corpo, só temos que aprender usar este método natural individual. No momento, vamos buscar nos arbustos mais conhecidos e fácil de se adquirir serenidade, tranquilidade e paz.

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  8. Gratidão Fenix Borges pelo seu comentário!

    Realmente existem em nosso organismo vários neurotransmissores similares aos alcaloides psicoativos de várias plantas plantas de poder. Alguns exemplos como o D.M.T (D-dimetiltriptamina) da ayahuasca que a glândula pineal segrega naturalmente em nosso organismo em momentos específicos. A psilocibina do cogumelo psilocibínico (stropharias cubensis) sua estrutura bioquimica é semelhante ao da seretonina. A noradrenalina também é similar a mescalina encontrada em alguns cactos como oPeyotl e o Wachuma.
    Intento e luz amigo!

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  9. Que relato fantástico sorri e fiquei emocionado lendo

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