quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Montanha




Projeção extrafísica espontânea
Horário: 07h20
Data: 16/07/96


Venho relatar esta que, talvez, tenha sido a mais fantástica e lúcida projeção extrafísica de minha vida.


Acordei mais ou menos às 07h15 da manhã. Estava dormindo na sala de casa, e já podia sentir alguns raios solares transpassarem o vidro da janela. Continuava deitado no colchão, meu corpo estava pesado e ainda me sentia muito sonolento.

Subitamente cai em sono profundo. Despertando em seguida, tento me levantar e não consigo. Tinha uma estranha sensação de peso sobre mim. Meus olhos estavam bem abertos e com uma incrível acuidade visual. Tentei falar, me mexer, me levantar, mas era inútil. Percebia tudo claramente ao meu redor, mas não conseguia me mover. Mantive-me calmo, para não me  descontrolar emocionalmente. Tinha acabado de entrar no estágio projetivo preliminar, ou seja, a sensação de paralisia temporária. Se continuasse calmo, logo esse estado passaria e me projetaria facilmente (embora nessa época não soubesse disso). Fiquei observando as coisas ao meu redor, mas à vontade de sair daquele estado me impulsionava a fazer algo.

Foi quando, automaticamente, senti um comando que me fez aglutinar e conduzir toda a minha consciência em um único ponto específico. Instantaneamente, senti todo meu ser, ou consciência, sendo transferido para meu chacra frontal. Sentia uma energia em forma de espiral pulsando nesse ponto. Minha consciência se projetou para fora facilmente, girando em um redemoinho.

O que me lembro depois disso foi de estar flutuando no ar, na posição de decúbito dorsal, a uma altura média de 60 metros. Reparei que estava usando uma espécie de manto branco, meus cabelos ondulados e compridos esvoaçavam levemente pelo ar. Sentia-me incrivelmente livre e total. Minha mente cristalina e sóbria percebia que o lugar que sobrevoava era muito parecido com o bairro onde morava; fora algumas alterações parecia ser o mesmo bairro.

Talvez, fosse realmente o mesmo, mas em uma época bem mais antiga.
Olhei para baixo. Em uma estrada de terra vermelha, paralela a um morro de eucaliptos, vi duas pessoas cavalgando. A pessoa que estava à dianteira era uma mulher, aparentemente bela de cabelos lisos e louros até os ombros. Ela trajava roupas de couro marrom escuro e preto desbotado. Logo atrás, a alguns metros da mulher, cavalgava um homem, que usava chapéu, botas e trajava também roupas de couro, mas de cor negra.

Sentia uma afinidade incrível com os dois, embora só os visse de costas, me sentia incrivelmente atraído pela cena. Segui-os com minha visão de ângulo privilegiado, até sumirem por traz do morro de eucaliptos. 

Depois disso, me projetei da altura onde estava, instantaneamente para o outro lado do morro. Desta vez, ao aterrissar, percebi que o lugar era exatamente como em minha infância. O morro estava todo plano, por causa dos tratores que trabalharam no local. Podia até sentir o cheiro da terra vermelha, na qual brinquei muito quando criança. Embora me sentisse muito feliz, meu propósito não era o de ficar recordando e, sim, de encontrar a mulher e o homem que cavalgavam. Não percebia em nenhum lugar os dois, diante de mim se encontrava apenas um cavalo, que comecei acariciar.

Então, nesse momento, a alguns metros acima de mim começou a se formar um buraco no espaço, parecido com um portal em forma circular. Observei atentamente sua formação: 

Primeiro apareciam faíscas luminosas e brilhantes, depois luzes multicoloridas, se entrelaçavam como uma espécie de vapor ou névoa energética de cor violeta e fragmentos de rosa fluorescente. Era uma formação heterogênea e incessante de cores de néon, com a predominância do lilás. 

As energias-cor se mesclavam entre si, mas sem perderem cada qual sua tonalidade original - um processo maravilhoso de se ver. Vi quando a energia, parecida com um vapor de gelo seco, formou-se em um círculo que refletia um outro espaço. Era uma passagem, um portal de tempo-espaço, sobrepondo-se ao próprio espaço.

Embora tenha percebido detalhadamente a formação do portal, tudo aconteceu de forma automática e rápida. Depois de concluído o portal, fui sendo dragado imediatamente para dentro. A impressão que tive foi de ter sido engolido por um vórtice e depois cuspido.

Apareci em um lugar que lembrava o Novo México, ou sudoeste do Estados Unidos.
A época parecia outra, final do século XIX talvez. Desta vez, sobrevoava de barriga para baixo, com os braços estendidos para frente. Estava incrivelmente mais lúcido, desperto, e minha mente expandida. Uma enorme satisfação e alegria me invadia. A minha liberdade era total. Percebia as belas montanhas como em estado psicodélico. Via tudo animado... As montanhas e o deserto emitiam cores fortes e brilhantes, era tudo contagioso. Parecia estar tudo em intenso movimento, embora estivesse numa altura considerável parecia tudo muito próximo, e que poderia tocar tudo com as mãos.

Olhei bem abaixo de mim e vi uma casa de madeira, típica da época. De lá vinha um ritmo musical, parecido com Country Music. Com minha audição aguçada sentia a melodia me afetar harmoniosamente. A canção me atingia como uma imensa onda de energia, sentia dentro, fora e por todos os lados de mim, a vibração sonora de cada nota, cada tom, a melodia me enchia e vibrava por todo meu ser. Indescritível sensação! Sem palavras! 

Sentia o pulsar que as notas musicas criavam dentro de mim ao vibrarem seus tons em suas respectivas cores. Sentia e via, tudo simultâneo: cores, tons e vibrações.

Estranhamente, senti uma impressão forte chegando até a mim, assemelhava-se a uma massa densa, que como uma onda gigantesca, foi me inundando e tinha uma vibração verbal. Algo semelhante a um eco expansivo, que se quebrava como as ondas dos mares, ao se encontrarem com as rochas. Essa energia fluía de dentro para fora e de fora para dentro de mim. Sentia tudo de forma expansiva.

Percebi que podia prever essa onda de energia que era verbal. Tratava-se da letra da musica Country que sentia por todas as moléculas do meu ser. Milésimos de segundo antes de ouvir a voz, podia prever as palavras rítmicas da canção. Não entendia, porém, muito menos queria compreender como tinha a possibilidade de tal façanha, simplesmente me maravilhei com a inesperada capacidade expandindo muito mais minha consciência em uma alegria sobre humana. Eu era a pura manifestação da felicidade em seu estado mais puro! Alegre - energia.

Percebi que a letra da canção era em inglês, e me surpreendi quando comecei a pronunciar a língua, mesmo antes de ouvir as palavras da canção. Nunca soube pronunciar bem, palavra em inglês perfeitamente e, naquele instante, pronunciava impecavelmente as palavras em inglês e podia antecipá-las. Tamanha era minha euforia, que cantei jubiloso, a bela canção Country perfeitamente, sem ao menos conhecê-la ou mal saber pronunciar em inglês. Deliciava-me a cada pausa do refrão, para novamente poder antecipar o que veria depois, podendo simultaneamente cantar acompanhando a bela voz da canção. Era tudo muito extraordinário, e ao mesmo tempo, direto como uma linguagem em bloco. Sentia a canção e a melodia, de forma linear, mas com uma  intensidade impressionante.

Por um momento, quando tudo parecia infinito, senti um deslocamento no meu psicossoma. 

Novamente o portal de espaço-tempo se abriu, e antes de ser dragado por ele, olhei para baixo e vi um homem com trajes de Cow-boy tocando um banjo.

Em seguida, fui sugado pelo portal. Tive a impressão de estar passando por um túnel. 

Novamente estava flutuando com o manto branco e na posição de decúbito dorsal. A região parecia ser um local do meu bairro, onde se encontrava uma igreja católica. Estava a uns 50 metros de altura. Não fiquei muito tempo naquela situação, logo reapareceu o portal e me transportou para um lugar belíssimo.

Apareci em uma região montanhosa de vasta e densa vegetação. Sobrevoava a alguns metros colinas e montanhas verde-musgo. As cores eram extremamente vivas e animadas. 

Em seguida comecei a ouvir outra melodia, que fluía de todas as partes, inclusive de fora para dentro de mim e vice-versa. Era uma melodia indescritivelmente bela. A harmonia lembrava timbres de pianos divinos e harpas celestiais.

De repente, comecei a ouvir uma voz afinadamente macia, limpa e cristalina. Era uma voz que de inicio não se definia como masculina ou feminina, no entanto emitia ondas sonoras visíveis à percepção. Podia tanto ver as cores como as formas das notas se projetarem e se dissiparem no ar. Tudo animado, multicolorido e fluorescente. Formavam-se notas em sol, lá, re, mi... Todas com suas respectivas cores e depois se consumiam no ar. Um espetáculo fantástico de se presenciar. Era tudo mágico, equilibrado e belo.

Comecei a prestar atenção à canção, também podia prevê-la como na canção Country, mas pela cristalina beleza que emitia, fiquei absorvido na letra e na voz. A letra era mitológica e era em Português. Não tenho palavras para expressar a beleza de tal canção. 

Sentia incrível afinidade com a musica. Simultaneamente em que observava toda vasta e densa região verde, sentia-me como que imerso, boiando em um mar sonoro da mais bela canção que já ouvi em toda minha vida.

Comecei a definir a voz, parecia-me agora de um timbre feminino. Parecia-me que a voz guiava meu corpo psicossomático, fazendo-o deslizar por entre as nuvens e neblina que se formavam nos topos das colinas.

Seguindo em frente, cheguei em um lugar exuberante, exótico e maravilhoso!

Estava a uns quatro metros ao lado de uma montanha de tamanho relativo. Abaixo de mim avistei uma estrada de asfalto sem guia e com seu lado externo quebrando-se para o abismo. Parecia-me que a rua asfaltada, em contraste com o esplêndido lugar, contornava a montanha até seu cume.

De imediato, a canção atraiu minha atenção, me fez olhar adiante no horizonte à minha frente, e o que vi me deixou cheio de inspiração até a borda.

Uma densa região tropical se estendia a quilômetros e quilômetros de distância. No interior da escura floresta, saíam formas energéticas, de um verde limão fosforescente que se dissolviam como bolhas e, em seguida, criavam novas e indefiníveis formas tênues. 

Continuava, simultaneamente, a captar a sonoridade da canção em seu todo e, mesmo absorvido na letra mitológica, meus olhos se ergueram de espanto: 

Vi uma colossal e estupenda montanha no horizonte da densa vegetação tropical. 

Instantaneamente fui projetado para muito próximo dela. Fiquei maravilhado, ao contemplar a soberba montanha. Sem dúvida ela era a guardiã de toda aquela região. Fiquei abismado, estava alguns metros ao seu lado e, no entanto, não conseguia ver o seu pico.

Um silêncio profundo invadiu meu ser, mesmo estando sintonizado com a canção, que continuava, senti que tudo tinha parado! A montanha, além do seu tamanho colossal, era de um verde azulado, denso e úmido. Podia ver detalhadamente as rochas cobertas por musgo, cipós, árvores e todo tipo de vegetação. Parecia ter entre mil e setecentos ou oitocentos metros de altura, ou muito mais.

Fiquei observando o movimento, lento, mas intenso, da neblina que se formava muito acima de sua metade escondendo seu ápice.

Nesse instante, o silêncio profundo e misterioso que a colossal montanha me causou, começou a me afetar emocionalmente. Pela primeira vez em toda maravilhosa experiência, comecei a sentir medo. 

A princípio não definia bem essa sensação, pois não tinha o que temer. Em nenhum momento me sentia solitário, mas ao contemplar o estupendo tamanho da montanha, o silêncio me fez perceber o quanto estava sozinho. 

Em toda experiência não tinha me sentido assim, mas, no entanto, depois da montanha, tudo mudou. Pela primeira vez percebi que estava só. 

Mas, mesmo assim, não era isso que realmente me incomodava. Percebi que o meu medo vinha de algo mais profundo, dentro de mim. Percebi que, em meio à solidão, não saberia reagir se encontrasse alguém mais ali. Em outras palavras, intuitivamente sentia que poderia encontrar alguém, ou alguma forma a mais com consciência a qualquer momento. 

Isso me desestabilizou.

Por incrível que pareça, temi encontrar alguém (consciência) e isso foi o bastante para me dragar automaticamente pelo portal, perdendo a cristalina e lúcida visão da montanha.

Depois disso, o que me lembro foi de aparecer ao lado do meu corpo físico, não me acoplei diretamente. Fiquei com o psicossoma sentado no sofá, olhava meu corpo físico, que mais parecia um boneco sem vida e opaco. Após essa observação, voltei para o corpo físico acordando em seguida.

Olhei para a janela da sala, vi os primeiros raios de sol - deveria ser umas 8h00 da manhã. 

Recordei dos raios matinais que criavam arco-íris ao se fundirem com a neblina da “Montanha Sagrada” e a única coisa que me lembrava da canção era uma frase em que falava das sereias dos mares.

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