quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Mumificação" em outra dimensão (?).

Projeção Extrafísica Provocada
Horário: 08h00


Essa experiência projetiva ocorreu em duas etapas: Primeiro simplesmente relaxei todo meu corpo, começando dos pés até finalizar no topo da cabeça. Não foi difícil, apenas dei o comando de relaxar e automaticamente o corpo atendeu à ordem. Quando já estava bastante relaxado, inspirei profundamente algumas vezes, exalando o ar pelos pulmões lentamente e de forma rítmica. Saturei minha mente para que quando caísse em sono fisiológico me lembrasse de olhar para as palmas de minhas mãos, quando aparecessem as primeiras imagens do sonho. Mas, ao invés disso, claramente percebi estar sonhando. Tinha essa percepção como sendo um espectador; via a mim mesmo com minha ex-companheira caminhando depressa e alegremente pela trilha de um morro, com vasta vegetação rasteira. 


O lugar era relativamente alto. De onde estávamos dava para avistar toda a parte baixa da região. Lembrava em alguns aspectos a “Fazendinha”, o local onde eu normalmente colhia espécies de cogumelos psicoativos contendo Psilocibina.

Observando de forma global verifiquei que se tratava de um ambiente plasmado. Como estava extremamente consciente do sonho, resolvi modificar o cenário e invoquei o intento da imagem real da “Fazendinha”, mas o máximo que consegui foi deixar a imagem meio distorcida, com se fosse feita de plástico ou de algum material elástico, flexível e/ou plasmático.

Nesse ínterim, dei uma gargalhada e enquanto observava minha ex-companheira, de costas para mim seguindo adiante. Dei um mergulho do morro onde me encontrava. De barriga para baixo com as mãos estendidas para frente, saltei num entusiasmo total, sem medo ou receio.

Literalmente agi como se fosse um super-herói de desenhos animados. Em meio às gargalhadas pelo meu ato surreal, senti uma eletricidade indolor em todo meu corpo, seguida de um relaxamento fora do normal, como se estivesse me dilatando, como o estanho quando exposto ao sol.

Instantaneamente fui dragado de volta ao meu corpo físico.

Tinha a sensação da paralisia temporária, com o detalhe de que uma energia vibrava por toda extensão do meu corpo, deixando-o leve. Logo comecei a inflar como um balão. Estava muito consciente e sabia que me projetaria a qualquer instante. Mas estranhamente a sensação prosseguiu por minutos sem se modificar. Imaginei a saída do meu psicossoma, com extrema dificuldade. 


Por alguns momentos minha consciência, ou segunda atenção, se elevava metros acima da cama onde estava deitado, e depois voltava ao estado inicial da paralisia temporária. Nesse vai-e-vem, não me lembro bem o que aconteceu, pois minha consciência passou a trabalhar em nível mental.

Aparecia em diversos lugares diferentes e, ainda assim, sentia estar conectado fixamente a meu físico. Não conseguia me desprender totalmente. Aceitei a experiência da forma que se desenrolava, sem maiores intenções. Então virou uma confusão total. Estava em vários lugares ao mesmo tempo. Muitas coisas eram coerentes, outras sem nexo. Comecei a receber informações simultâneas. 


Em dado momento ouvia o som de uma canção indígena ao mesmo tempo em que uma voz falava comigo, me comunicando que o “Índio” tinha voltado. 

Depois comecei a girar no ar sobre meu próprio corpo como se fosse um parafuso, enquanto olhava paras palmas de minhas mãos e lembrava de percepções ocultas, registradas e esquecidas dentro de mim. Eram impressões “obscuras” de estados interiores do meu ser. Indescritíveis visões agonizantes que queriam irromper de dentro de alguma parte de mim. Essas visões eram as mesmas que irromperam, certas vezes, em alguns estados de consciência alterada produzidos pela Ayahuasca. Procurava compreender e assimilar o sentido dessas percepções de forma sóbria sem me deter obsessivamente nelas.

Em seguida estava ouvindo uma canção muito empolgante, de um ritmo aborígine desconhecido, mas que conseguia cantar juntamente com a voz que a embalava, vinda de não sei onde. Os sons dos instrumentos eram primitivos, mas de forma alguma grosseiros. O a melodia era refinada e exótica. Não sei como conseguia cantar junto com o ritmo e com a voz, pois era algo desconhecido para mim.

Depois de algum tempo nessa situação voltei para meu corpo físico.


Segunda etapa


Fiquei um tempo refletindo sobre a experiência; não muito tempo, só alguns minutos, pois logo a sensação vibratória voltou. Assim que senti que poderia me projetar fora do corpo, me imaginei saindo, mas o máximo que aconteceu foi minha consciência se elevar alguns metros acima de mim, acoplando-me em seguida ao físico. Meu corpo ficou imobilizado no mesmo instante. Senti um sono profundo me invadindo até perder completamente os sentidos. 


Afundei em um mar escuro e denso.

No momento seguinte de que me lembro, estava levantando minha cabeça que parecia emergir de dentro do meu plexo solar. Olhei para o quarto, estava tudo como na vigília. Verifiquei que minha visão não era convencional. 


Parecia-me que meus olhos enxergavam por óculos largos sem lentes, ou que eram os próprios óculos em seu formato. Não havia distorção, embora o ângulo fosse irregular. Logo senti um peso nas pálpebras, ou o que eu achava serem elas.

Antes de afundar no sono fisiológico novamente, olhei para meu lado direito em busca do espelho na porta do guarda-roupa. Vi uma imagem parcial do meu rosto, dividido verticalmente ao meio, como se a outra parte não existisse. O que me lembro depois disso, foi de sentir meu corpo ser perpassado por uma vibração intensa. Senti meu psicossoma querendo se desacoplar do corpo físico. Tentava flutuar com o psicossoma, mas sem obter sucesso. Passei a atuar em dois níveis de consciência: no primeiro sentia meu corpo físico deitado e imóvel como uma rocha, enquanto a vibração pulsava sobre ele. No segundo, uma atenção especial queria eclodir ou emergir, procurando com extremo esforço ser expelido daquilo que parecia ser sua prisão.

A segunda atenção passou a ser predominante. E, quanto mais força ela fazia para emergir, maior era a desassociação que sentia em um nível muito profundo da minha consciência, entre a primeira atenção, tridimensional e cotidiana, e a segunda atenção, extrafísica. Estranhamente, travei uma batalha desgastante para me projetar. Meu psicossoma, quando pareceu exausto, cedeu e deitou-se no chão ao lado do meu corpo físico que o puxava fortemente de volta. Então comecei a ouvir um som bucal, como se minha boca estivesse expelindo um jato de cuspe ao ar e sobre o corpo. Em seguida soltei um gemido alto de alívio. Meu corpo psicossomático soltou mais uns dois gemidos altos: Aaaaaaahh! Enquanto ouvia o som bucal que parecia sair do meu corpo físico, soltando jatos de cuspe ao ar, parecido com o barulho do sistema respiratório das baleias. A sensação de alívio foi aumentando a tal ponto que tinha a impressão de sair de uma lata de sardinhas. Tinha uma agonia doida que me fazia sentir que estava pressionando ou estrangulando meu verdadeiro eu. Um eu que estava louco de raiva e sedento por liberdade, ansiava por movimento. Era selvagem por natureza e não suportava mais a domesticação, os condicionamentos e todos e quaisquer padrões de comportamento programados. Este eu era automático, era a segunda atenção!

Finalmente, uma força foi dominando toda minha percepção e comecei a captar um som de flauta que me deixou sereno. O som foi aumentando, percebi que realmente o som estava vindo de encontro a mim e por isso ficando mais alto. Reconheci o som, eram ritmos simples feitos com uma espécie de folhas de árvore, utilizados pelos indígenas da etnia Krahô, ocupantes das regiões norte de Goiás e Oeste de Tocantins.

Logo esse som se transformou na melodia hipnótica e envolvente de um instrumento parecido como as flautas feitas de bambu. Parecia ser tocada por um fauno, um ser encantado. Fiquei absorvido. Depois uma canção indígena, com uma voz forte de pajé, fez o meu peito vibrar, como que puxando algo de lá. Novamente reconheci a canção, também era do clã krahô. Senti forte inspiração. Então, fui envolvido por uma energia ancestral, percebia como que em um campo de proteção, ou algo parecido, de uma coloração cinza leve. Tinha a nítida sensação de uma presença indígena que me envolvia nesse campo ou espaço cinza, mas não enxergava nada. Em seguida me projetei com meu psicossoma em meu quarto tridimensional. Não quis olhar para meu corpo físico, sentia uma urgência fora do comum, como se não tivesse tempo para nada.

Então novamente fui envolvido pelo campo-espaço acinzentado. Não conseguia enxergar nenhum objeto, apenas a cor cinza. Uma coisa peculiar eclodiu de mim. Disse uma palavra em língua estranha num tom interrogativo. Foi algo tão espontâneo que me pegou de surpresa. Não sabia o significado da palavra, mas intuía que a fazia em tom interrogativo. Novamente repeti a frase: — Nahoma Biwiky?!

Após dizer essa palavra uma terceira vez, fui conduzido para uma outra dimensão. A percepção do ambiente em que apareci era cristalina, para meu assombro!

À minha frente, vi uma fileira de alguma espécie de cápsula, todas posicionadas verticalmente uma ao lado da outra. Eram transparentes e compridas, como tubos de ensaio com dois metros de altura. Dentro desses recipientes encontravam-se seres humanos altos e magros. Eram estranhos, tinham fisionomias bizarras, ou estavam distorcidos por um processo, algo parecido com a mumificação Egípcia. Senti um arrepio indescritível em meu ser. Embora intuísse que aquele ambiente não era deste mundo, sentia que havia uma relação muito profunda entre a visão daquela dimensão e certos aspectos da cultura Egípcia, principalmente a prática de mumificação. 


Embora a cultura Egípcia, comparada ao que eu via, fosse extremamente primitiva e rudimentar. Tudo nesse lugar indicava alto nível de tecnologia, parecendo, ainda que vagamente, com filmes de ficção cientifica, mas tudo altamente refinado, como feito por cristais e metais desconhecidos. A visão lembrava-me muito, em termos de qualidade visual, os constantes e vários insights velozes que se obtém com a ayahuasca e a psilocibina. 
E tal visão não durou muito, pois me recusei; não suportei a sensação ou a visão do lugar. Desejei não ver o que estava vendo. No mesmo instante tudo começou a se transfigurar. A cor de todo ambiente revelava-se num tom amarelo avermelhado. Depois de perder a coesão e o formato, tudo foi ficando laranja avermelhado. Comecei a andar adiante, nada mais tinha forma, só predominava a cor laranja avermelhada por todos os lados. Para recuperar minha sobriedade, invoquei meu maracá, e este apareceu em minhas mãos. 

Continuei andando e passei a entoar uma canção indígena com a palavra “Nahoma Biwiky”. Entoei-o com mais algumas frases que eram ininteligíveis para mim, mas me surpreendi ao perceber que cantava uma canção monótona, mas com um ritmo coerente e belo, embora simples. Senti-me inspirado. Não compreendia como sabia cantar aquilo. Não tinha muito sentido para mim. 

Logo verifiquei que o ambiente tinha se modificado por completo e já parecia mais conhecido. Apareci em um ambiente plasmado, mas dessa vez no quintal da casa da época de minha infância. Senti-me mais seguro, mas quando quis repetir a estrofe da canção, minha razão me assaltou e esqueci as frases, dizendo coisas que não tinham nada a ver com o que tinha cantado antes. Isso me incomodou. Fiquei tentando lembrar de algo, com se estivesse na vida física.

Automaticamente, me projetei ou fui dragado de volta para meio quarto. 


Estava agitado, andava de um lado para outro. Então, sem querer, vi o reflexo do meu psicossoma no espelho do guarda-roupa. A minha imagem mostrava-se deformada e grotesca. Era uma imagem côncava. Meu pescoço ficava muito largo e grande, meu maxilar era quadrado como o de uma estátua de pedra. Não quis ficar preso em minha auto-imagem, então saí da frente do espelho, mas antes de qualquer outra coisa parecia ter visto algo estranho em minhas narinas e boca. Tive a impressão de que escorriam excrementos de ambos os lugares. Voltei rapidamente para frente do espelho e fiquei chocado. 

Meu corpo estava de um tamanho desproporcional e extremamente largo. 

Meu semblante expressava um feitio desvairado. Meus olhos eram fundos e loucos. Das minhas narinas escorria coriza densa e esverdeada que se confundia ao se encontrar com a baba branca e espumosa que se projetava da minha boca e alcançava o queixo. Meu tamanho descomunal, a coriza e a espuma me davam um aspecto de ogro alucinado. Estava bestial. Parecia que meu corpo psicossomático transfigurava a forma latente de minhas emoções aprisionadas e não compreendidas ( ao menos essas eram minhas avaliações psicológicas à respeito disso, na época). Depois de ter constatado meu estado, disse para mim mesmo: — Nossa! Estou babando como cão raivoso, louco e furioso.

Expressava em meu corpo psicossomático a imagem da raiva contida, reprimida, acorrentada e bloqueada.

Voltei rapidamente para a poltrona existente no quarto, peguei uma toalha que ali se encontrava e desordenadamente comecei a limpar meu rosto. Em seguida desejei acordar. Via parcialmente meu corpo físico deitado qual um boneco na cama. Então, sem olhar para ele, fui em sua direção e sentei em cima dele. Senti-me afundando em meu plexo solar. Era estranha a sensação, parecia desassociado. Mas logo me ajeitei e afundei em meu corpo. 


Enfim acordei no físico

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