
Projeção extrafísica espontânea
Horário: manhã
Data: 22/10/04
Quando percebi, estava semiprojetado com meu psicossoma a alguns cm do meu corpo físico. Era de manhã no momento da experiência. Lembro-me de estar pairando verticalmente com meu psicossoma.
Meu quarto estava semi-escuro. Tive a intenção de prestar atenção nos “itens da projeção”, ou seja, observar todos os objetos que existiam em meu quarto. Antes que as imagens desaparecessem, voltava minha visão para as palmas de minhas mãos, que apareciam perfeitas, como no físico. Contudo, percebi que pudia olhar as coisas ao meu redor fixamente sem que elas desintegrasse ou se tornasse outra coisa como nos Sonhos Lúcidos em que despertamos. Isto, significava que estava realmente com meu corpo extrafísico projetado no meu quarto da vida diária.
Em seguida tentei flutuar até o teto; minha intenção era a de chamar meu sobrinho, que dormia no outro quarto, através de um vão que havia entre o telhado e a parede que separava os cômodos. Por esse vão dava para ver o outro quarto.
Mas quando tentei flutuar, ao invés de levitar, comecei a subir com minha atenção até o vão, como estivesse em um elevador.
Fiquei surpreso com a novidade e instantaneamente voltei ao chão. A experiência era tão nova que tentei de novo. Outra vez, minha atenção subiu como se puxado por um guincho.
Olhando por entre o vão, chamava entre os gritos meu sobrinho, acreditava poder despertar sua consciência e fazer projetar o seu psicossoma. Gostaria que visse o que podíamos fazer extrafísicamente.
Inutilmente gritei...Não me importando, voltei ao chão e resolvi sair do quarto. Estranhamente ao girar o trinco e puxar a porta, as coisas ficaram incongruentes, pois uma outra porta de cor azul apareceu atrás da primeira. A cena era tão ridícula e esdrúxula, que comecei a rir. Lembrava a cenas de desenhos. Automaticamente abri a segunda porta e sai pelo corredor até a laje.
Estava incrivelmente claro, embora chuviscasse, dando uma impressão de umidade no ar. Por algum motivo, Minha visão extrafísica ficou um tanto turva, sentia uma pequena sensação de sonolência. Observei que a minha direita, na laje do vizinho; que fazia divisa e formava um muro de um metro acima da laje de casa, uma pessoa se encontrava lá agachada.
Sentia que o individuo de alguma forma se comunicava comigo. Não conseguia ver o seu rosto, minha visão estava embaçada bem no ponto em que percebia sua cabeça.
Minha visão obtinha a imagem semelhante a uma câmera filmadora, embaçada em algum ponto, por causa de um pingo d’água. Por esse motivo, por mais que tentasse não conseguia ver o rosto do individuo, só percebia nitidamente do pescoço para baixo e de forma irregular, por ele estar agachado.
Ele trajava roupas comuns: camiseta xadreza e calça jeans. Embora sentisse que ele usava tom de escárnio para comigo, não lhe dei tanta importância.
Volitei do corredor e fui até a rua, próximo a uma firma abandonada, que ficava de frente para casa, mas do outro lado da avenida.
Comecei a observar tudo, procurava coisas fora do comum, alguma coisa que não teria sentido estar lá na experiência projetiva. Olhei para a firma, estava igual como na vida diária. Olhava para as ruas, casas, estava tudo como deveria estar, nada de incongruente. Então passou na minha frente um cachorro vira-latas, muito estranho e de uma cor cinza incomum. Acreditei ser ele algo estranho à projeção. Segui-o e apontei meu dedo mindinho em sua direção e falei alto: — Quero ver energia!
Após, essa afirmação, nada mudou. O cão exótico continuou do mesmo modo, não vi se desintegrar, muito menos em estado energético.
Comecei então, a apontar com o dedo para todo mundo, que passasse por mim e, mesmo para pedras, lixo, quaisquer objetos para ver se desintegravam ou lhes via em estado energético.
Fiquei como a um bobão, apontando pra tudo e dizendo: — Quero ver energia!
A cena era grotescamente irônica! Então, comecei a rir de mim mesmo e volitei novamente para o centro da laje de casa. Quando olhei a minha direita, próxima às caixas d’água, vi um pequeno corpo em posição fetal, deitado no chão da laje em meio a uma pequena poça d’água. O pequeno corpo que tinha o tamanho de uma criança de dois anos se contorcia encolhido ao chão da laje. Ele parecia estar um tanto carbonizado e tinha aparência de uma múmia embalsamada. Por mais horrível que fosse a cena, não me deixei envolver por ela. Percebi que era uma coisa muita fora de nexo e não tinha sentido estar vendo aquilo ali.
Portanto, simplesmente apontei o dedo mindinho da mão esquerda para o estranho ser, dizendo querer ver energia. Simultaneamente ouvi a voz do individuo, que ainda se encontrava agachado na laje vizinha, em tom jocoso dizer: — Se não ver energia agora, não verá nunca mais.
No mesmo instante, a criaturinha que se contorcia em posição fetal, se desintegrou diante de mim, deixando apenas um brilho muito fraco de luz, como a uma faísca de um isqueiro que imediatamente some.
Depois disso, resolvi não ficar lá fora, me dirigi ao corredor passando pelo indivíduo agachado e, sem olhar para ele, entrei no quarto.
Quando abri a porta e entrei, tive uma percepção muito peculiar. Vi meu corpo físico jogado na cama qual um boneco de pano. Em seguida tudo se transfigurou. O interior do quarto se modificou drasticamente.
Apareci em um lugar lamacento, estava sentado no chão, intimamente me sentia desnorteado. Parecia-me estar em baixo de uma imensa lona transparente, que se estendia a uma altura considerável do céu, dava a impressão de uma colossal barraca.
Abaixo de mim, havia uma areia lamacenta e uma poça d’água pantanosa, alguns cm dos meus pés. O lugar era lúgubre, o céu podia se ver pesado e cinza como chumbo, através da transparência da lona. Minha impressão era de estar num submundo ou esfera inferior. Ouvia todo tipo de gritos, ruídos, e sons guturais agonizantes, vindos de cima e abaixo de mim.
Tentei cantar canções indígenas, mas minha voz ecoava ressoando num tom distorcido, atraindo uma glossolalia de lamentos ininteligíveis.
Tentei me firmar e me esforcei para sair daquele lugar pantanoso, foi quando, comecei a ouvir um zumbir de moscas. Fiquei apreensivo, o zumbido era incessante e parecia vir de três direções distintas.
Após essa constatação, passei a perceber em três níveis de consciências ao mesmo tempo. Embora percebia em níveis distintos, estes eram acoplados e simultâneos.
Apareci em três lugares ao mesmo tempo e sentia simultaneamente, tudo de forma total e direta. Do submundo onde estava, vi o meu psicossoma (corpo energético) de pé, dentro do meu quarto, observando meu corpo físico, que estranhamente dormia dentro de uma barraca iglu, que pairava alguns cm acima da minha cama. Do meu corpo físico e inerte, meu nível de consciência processava uma autoscopia, em que via a mim mesmo, tanto no submundo, como em psicossoma olhando para mim dormindo.
Do mesmo modo, em que ouvia o zumbido das moscas no submundo, sentia o mesmo barulho nos meus ouvidos físicos e meu corpo psicossomático; via as moscas entrando pela barraca e pousarem no meu rosto.
Meu outro nível de consciência, o que estava na região lúgubre, ficava aflito, por perceber todas as outras situações e, ainda sim, preso naquele mundo.
Naquele momento, já não separava cena alguma, sentia tudo e tudo acontecia ao mesmo tempo e agora! Era tudo um bloco interligado de percepções e sensações distintas, mas, ligadas uma na outra. Minha aflição acentuou, quando a poça pantanosa aos meus pés, começou a girar em um redemoinho. A areia se tornou movediça e começava afundar. Estava sendo dragado para baixo.
Enquanto isso, os zumbidos das moscas aumentavam e, elas, invadiam a barraca iglu infestando-a. O redemoinho girava cada vez mais rápido. Meus pés afundavam lentamente na areia movediça. A barraca iglu estava quase que completamente cheia de moscas. Sentia elas andarem sobre minha face, tentava acordar, levantar, mas não conseguia. Tinha uma sensação muito pesada no corpo físico, me sentia como um pano molhado e esparramado ao chão. No submundo, ia afundando cada vez mais, sentia que desceria por um funil, ao olhar o redemoinho me puxando. Os ruídos e barulhos distorcidos de todos os lados, daquele lugar infernal eram medonhos.
De repente, quando senti estar perdido, meu “eu” psicossomático, ajoelhado na posição de diamante, fazia uma espécie de oração, que mais parecia uma conversa serena dirigindo um intento à uma "fonte superior" .
Via-me na posição de diamante olhando para cima, pedindo com palavras simples e claras para sair de tal situação.
Com cristalina serenidade, olhava para cima, ao mesmo tempo, que sentia uma energia pura e clara me perpassar. No mesmo instante, a água pantanosa da areia movediça, começou a secar. Foi sendo filtrada para baixo, restando apenas um buraco com areia seca.
Ainda senti a agonia de ver minhas pernas sendo engolidas quase que completamente, e, numa torturante torcida para que o redemoinho parasse. Sentia um sufoco incrível.
Não via mais meu corpo físico na barraca, muito menos as moscas sobre ele.
Quando o redemoinho cessou, minhas pernas estavam afundadas na areia seca até as coxas. Senti um alívio imenso ao ver que parei de afundar.
Enquanto isso, via meu corpo psicossomático agradecendo. Essa cena foi derradeira.
Quando acordei, estava meio assustado. Ao olhar para a janela, vi uma mosca tentando sair através do vidro da mesma.
Obs: O que descrevi aqui foi apenas uma tentativa de elucidar, algo tão difícil de explicar e expressar por padrões lineares de tempo-espaço e, mesmo, pela razão humana.
Compreensível, seria para aqueles que vivenciaram semelhantes experiências de estarem em vários lugares ao mesmo tempo e, ainda sim, conectados simultaneamente uns aos outros, atuando e sentindo como se fosse um todo interligado.
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