terça-feira, 11 de outubro de 2011

O invasor


Projeção extrafísica: espontânea.
Horário: Madrugada
Data: 08/08/05.


Já passava da meia noite e não conseguia dormir.

Estava muito agitado, permaneci nesse estado até as duas da madrugada. 

Como estava em estado de alerta, resolvi me conectar com a Mãe Terra, acreditava ser o momento apropriado para me projetar.

Virei-me de barriga para baixo, essa posição era muito apropriada, já que há dias minha ex-companheira e eu dormíamos em colchões no chão da sala. 


Nesta posição me senti mais confortável, ficando mais desperto ainda. Uma onda de estímulos sensoriais me invadiu. Não foi preciso visualizar nada, nem ao menos me auto-sugestionar. Simplesmente sentia ondas de energias emanadas pela terra. Entreguei-me totalmente. Senti uma pressão forte, mas macia no meio do meu corpo, como um bloco ou uma pedra morna me pressionando. Sentia certo alívio.

Então, passei a ter várias alterações de consciência espontâneas. Em dado momento, sentia ondas de energia pulsarem em meu peito. A sensação era tão agradável que parecia estar descongestionando meu sistema respiratório, sentia poder respirar melhor.

Em seguida, vi o céu negro com as bilhões de estrelas muito próximas. Estava tudo tão nítido e cristalino...

Logo após, senti meu ser mergulhando em uma sensação fluída, parecia que meu corpo estava boiando em um lago. Foi então, que percebi todo meu ser diluído no elemento água. A sensação não era agradável nem desagradável. 


Embora não fosse gelada, e sim refrescante, por algum motivo não quis ficar em contato com o elemento aquoso mesmo sabendo se tratar de uma força condutora. Simplesmente não quis utilizá-la. (Em muitas outras ocasiões, me utilizei desse elemento condutor, para me projetar extrafisicamente, visualizando rios, mares, lagos e mergulhando neles).

Intentei (invoquei) outro elemento condutor que me agradava. 

Desejei que minha consciência se consumisse em fogo.

Logo comecei a ouvir o estalar de brasas produzidas pelas chamas da fogueira. Senti todo meu ser arder em um calor maravilhoso. Sentia-me dilatar, tornando-me pura chama.

Tive vontade de cantar uma canção para a terra. 


Veio-me na mente uma canção do hinário do Santo Daime, chamada, Mãe Terra. 

Quando repetia o refrão: 

“Terra, Mãe Terra querida, pavimento do meu caminhar” ...apareceu na minha frente um vórtice, um túnel negro que tomou conta de todo meu campo de visão. 

Entrei nele com minha atenção, todo meu ser concentrou-se nele, como se fosse o próprio túnel.

Por um momento, me senti grato à Mãe terra pela experiência, pedindo oportunidade para corrigir todos os meus erros, minhas faltas cometidas, ou seja, lá o que fosse de errado em minha vida. 


Então soltei um grito gutural com a intenção de me conectar com meu animal de poder.

Neste ínterim, apareceu, saindo de trás de mim e se projetando à minha frente, um imenso cão negro. Logo percebi se tratar do meu animal guardião, baseado no elo que tenho com os caninos:

Cães, lobos etc...

Pedi ao imenso animal para que fosse meu guia, que tomasse a dianteira guiando meus passos.

Assim que verbalizei a frase comecei a uivar como lobo. Vi uma massa escura seguindo adiante pelo túnel e fui atrás soltando uivo após uivo. De repente, quando a massa escura some ou se confunde com a escuridão giratória do túnel, comecei a ouvir um choro turvo de bebê recém-nascido. 


O choro parecia sair de dentro de mim, embora o ouvisse primeiramente ecoando por toda extensão giratória do túnel negro. Quis, por algum motivo, acreditar que fosse meu choro, de quando era bebê. Consegui fazer com que o choro parasse, voltando a uivar, até tudo se tornar uma escuridão total.

O que me lembro depois disso, foi de sair com meu psicossoma para fora do corpo físico. Projetei-me ficando parado de pé, na porta de saída da sala, olhando para o quarto. Tinha a intenção de constatar se ainda haviam vestígios de energias intrusas no quarto. 

Pedi para meu animal de poder ir à frente, a fim de evitar qualquer assalto inesperado das energias invasoras. Em seguida, uma massa escura passou muito rapidamente na minha frente. Era o vulto do cão negro que desaparecera em direção ao quarto.

Meus objetos de poder se projetaram na minha frente, pendurados agora na parede ao lado da porta de saída da sala. Lá estavam os instrumentos xamânicos:


Tambor, maracá, pedras, colares, etc.

Resolvi pegar meu tambor, mas alguma coisa me impediu. Tentei então o maracá. Retirei-o da parede com certa dificuldade e direcionei-me para o quarto.

Lá chegando, olhei para todos os cantos, nenhum sinal do meu animal de poder, muito menos de algo fora do comum. A cama encostada na parede a sudoeste, dois guarda-roupas, um a leste e outro a oeste.

Comecei a dançar e tocar o meu maracá olhando na direção da cama. Percebi que o som do maracá estava tão baixo que mal podia ouvi-lo. Ao olhar para ele percebi que a vara que o transpassa estava quebrada em sua parte superior deixando a cabaça mole e flexível, não permitindo que o som saísse adequadamente. Rapidamente empurrei a vara para a extremidade superior, arrumando-o. 


Embora a parte inferior da vareta, com a qual se segura o maracá, tenha ficado pequena em relação ao resto do instrumento, isso não impediu o som de sair de forma integral.

Comecei a bailar com dois passos para leste e dois para oeste, no ritmo monótono e repetitivo do maracá. Foi quando uma inspiração muito forte começou a me invadir, recebendo uma canção indígena em seguida. Fiquei repetindo-a incansavelmente e, em dado momento, senti minha língua inchar não cabendo mais na minha boca. Ainda assim continuei a repetir a canção. 


Minha língua foi ficando tão grande e inchada que começou a me sufocar. 

Comecei a babar, resolvi colocá-la pra fora da boca. Ela estava uns 15 cm maior do que o normal e era pontuda, feia e repugnante. Não deixei que a estranheza da experiência me abalasse. Concentrei-me na canção e no som do maracá até que ela voltou ao normal. 

Então foi aparecendo à minha frente, no vão oeste entre a cama e o guarda-roupa, uma porta ou passagem que se estendia ao longo de cem ou duzentos metros, por um beco lúgubre e escuro.

Continuei a dançar e tocar o maracá. Percebi se tratar de uma passagem plasmada de algum ambiente do plano extrafísico que se ligava ao quarto. O beco parecia muito com as vielas escuras da periferia de São Paulo. Com casas de alvenaria e muros sem acabamento nos dois lados.

De repente, um movimento no beco me fez parar de tocar e dançar. Vejo mais adiante, a uns quarenta metros de distância (se fosse viável comparar em termos de parâmetros físicos), um vulto que pulava um muro à minha esquerda e se dirigia até mim. Fiquei parado, perplexo, olhava a sombra que ganhava forma enquanto se aproximava da passagem entre o beco e o quarto. 


Fiquei parado a observar a figura diante de mim, quando ela atravessou a passagem. 

Desconhecia a pessoa (ser) que ficou à minha frente, imóvel em sua expressão. Esse invasor tinha, mais ou menos, 1.70m de altura e trajava calças jeans desbotadas. Usava igualmente uma blusa azul claro de moletom e cobria a cabeça com o gorro da mesma. Um lenço marrom e sujo amarrado em sua face cobria-lhe boca e nariz, deixando apenas seus olhos à mostra.

O invasor (entidade) puxou o lenço à altura da garganta escancarando um sorriso frio e cínico. Seu olhar era atrevido, mas estático. Tinha uma fisionomia miscigenada, uma mistura de várias raças, mas com a tez morena clara achocolatada. 


Ficou diante de mim, me fitando com os dentes expostos sem dizer uma palavra sequer.

Chacoalhei meu maracá e, fazendo um som, apontei-o para o seu peito perguntando-lhe em seguida:

— Quem és tu?!

O invasor continuou me olhando e sorrindo de forma cínica e estática e, sem responder nada, virou-se de costas para mim como se eu não existisse e seguiu em direção à sala. Segui-o rapidamente. Ele parou próximo (ao lado) aos colchões, onde os corpos físicos meu e da minha ex-companheira repousavam. 


O estranho parou diante de mim, com a mesma expressão indiferente de antes. 

Novamente peguei o maracá e, direcionando-o ao seu peito, fiz um circulo simbólico com uma cruz isóscele, ao mesmo tempo em que criava um ritmo com o chocalho. Em seguida disse-lhe:

— Esse lugar não lhe pertence!

Deixei bem claro que não era bem vindo, que o local não era dele! Então ele se transportou para o lado da TV, olhando indiferente para mim, como se minhas palavras não tivessem tido efeito algum. Percebi que não adiantaria falar com ele. Então, num gesto impulsivo, pulei para cima dele prendendo-o no chão. 


Com toda minha força de vontade ordenei que voltasse para o lugar de onde veio. Ao dizer essas palavras, sua imagem começou a se dissolver, foi ficando transparente. 

Então pedi para a consciência da Mãe Terra absorvê-lo ou transportá-lo. Num instante o invasor sumiu, como que sugado pela terra. 

Levantei-me e, ficando ao lado dos colchões, percebi que minha ex-companheira estava semi projetada. Sentei-me ao seu lado dizendo que ia verificar se ainda existia algum vestígio no quarto. Mas ela me impediu retrucando não ser mais necessário. 

Flutuei até o sofá-cama, fiquei lá sentado. 

De repente meus ouvidos extrafísicos começaram a captar sons de maracá. 

Era um ritmo monótono, mas muito envolvente. Fiquei absorvido pelo som até acordar em corpo físico.

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