sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O quarto e a fogueira


Projeção extrafísica espontânea
Horário: madrugada
Data: 19/04/05

Essa projeção extrafísica começou com um sonho lúcido, no qual, eu aparecia no meu antigo quarto. Na parede, existiam quadros, estatuetas, machado de pedra, lança, flecha, colares e todos os arquétipos xamânicos de culturas indígenas, inclusive meus objetos de poder, maracá e tambor.

É um quarto que normalmente guardo boas lembranças e por isso está plasmado fortemente em minha memória.

Estava dormindo na companhia de minha ex-companheira, quando comecei a ter esse sonho lúcido.

Estava em meu antigo quarto quando, estranhamente, ao ter consciência de estar lá, obtive com uma lucidez incrível. No mesmo momento, tudo se transfigurou. A cena mudou e fui transportado para outro quarto. Este era maior e muito mais largo e sua parede era de madeira.

O piso era de terra pisada, lembrando muito as casas de rezas dos Guaranis, mas sem o teto de palha e pau apyke.

O interior do quarto estava semi-escuro, como de madrugada, e, no centro encontrava-se uma fogueira. Comecei a alimentar as chamas, percebia que a luminosidade assim como a minha lucidez dependia das lenhas que colocava nela.

Constatei isso ao colocar madeira no fogo. Enquanto as chamas cresciam, a lucidez e sobriedade da minha consciência ficavam mais aguçadas. Percebi que deveria manter a fogueira acessa para não ficar inconsciente. E assim o fiz. Quanto mais lenha, maior as chamas e maior meu nível de consciência e lucidez.

Despertei a tal ponto que acordei no “sonho”, tornando-se um ensonho* .
Tinha consciência de mim mesmo, estava tudo mágico, minha mente expandida, como se estivesse em uma consciência intensificada, ampliada.

O fator predominante era o arquétipo da fogueira no centro do quarto semi-escuro, que me trazia uma lembrança muito forte, de algo que constantemente acontece, quando me projeto para fora do corpo físico.

A lembrança a que me refiro, são as vibrações de ondas verbais, que sinto sair de dentro e, ao mesmo tempo, fora de mim. Essas ondas vibratórias acabam resultando em canções indígenas, que minha consciência libera em total sentimento de inspiração.

Em seguida, sempre sinto a força ou mesmo, vejo uma entidade indígena comigo. Tenho uma impressão de ancestralidade muito grande quando isso acontece.

Ao ter consciência de todas essas lembranças, automaticamente as ondas vibratórias começaram a me invadir, lá do âmago do meu ser, como um sopro saindo do meu estômago para resultar em canções.

Como um vendaval, canções indígenas eclodiram e comecei a cantá-las em êxtase. Percebi que naquele momento de pura inspiração, passei do lugar de “sonho” onde me encontrava, para outro cenário. Literalmente pulei de uma cena a outra. Como que caindo de pára-quedas, definitivamente caí do céu.

Observava o ambiente em que me encontrava, parecia um bairro de uma periferia urbana. Estava deserto, talvez, pelo fato de ser de madrugada. Percebia algumas luzes que vinham dos postes na rua. Notei que estava dentro do terreno de uma industria ou companhia de água.

Avistava, ao meu lado, vários reservatórios de água cilíndricos de vinte a trinta metros de altura. O espaço era uma área aberta, podia ver o céu escuro. 


Olhei adiante e vi um imenso reservatório à minha frente, parecia muito com os reservatórios de gelo seco da White Martins. Sua presença me fez notar o meu corpo. Percebi, que usava uma camisa azul celeste, que há muito tempo não usava na vida cotidiana.

Ao presenciar meu corpo extrafísico, e que usava a tal camiseta, meu nível de lucidez ampliou. Fiquei muito desperto. Em total alerta!

Isso foi o bastante, para me lembrar das palmas de minhas mãos e da técnica Tolteca, de olhar para elas, em seguida, para o itens no “sonho”, na finalidade de manter as imagens fixas e coerentes.

Desde o inicio nunca tive dificuldades em manter essa técnica em projeções e sonhos lúcidos. Sempre de uma forma ou de outra, como um comando automático, lembrava das palmas de minhas mãos e de imediato elas estavam diante de mim.

Então com a vontade que me trouxe essa lembrança enxerguei as palmas de minhas mãos. Estranhamente, elas apareceram diante mim de forma distorcidas. Estavam grandes, levemente esverdeadas e feias. Parecia estar vendo-as, através de um recipiente de vidro com água.

Disse a mim mesmo: — Puxa, mas isso não são as minhas mãos! No exato momento em que comecei a me concentrar nos seus detalhes, elas começaram a ficar mais uniformes e mais parecidas com as minhas.

Então, não quis mais vê-la, estava bastante lúcido. Tive uma vontade de voar. Simplesmente levantei os braços para cima, como uma alavanca que impulsiona e subi, flutuando com extrema leveza e facilidade. Senti meu corpo psicossomático planar como uma pena, uma sensação muito satisfatória. Fui subindo e flutuando na posição de decúbito dorsal. Sentia uma força, que ao mesmo tempo, puxava e empurrava meu corpo psicossomático. Era difícil de definir, talvez os dois de uma vez.

Sentia-me com uma liberdade extrema, uma sensação muito boa. Quando cheguei a certa altura, contemplei o negrume do céu, que estava estrelado. Sentia-me boiar em pleno ar e não parei de subir. Então, de repente, fiquei assustado com o tamanho do céu, pensei que iria boiar sem destino e me perder. Tive receio de não conseguir parar, então me entreguei ao medo infundado. Esse descontrole emocional, bloqueou o processo, fazendo-me descer até pairar alguns metros acima do reservatório de gelo seco, que era o maior do local.

Podia descer em cima dele, mas por algum motivo não o fiz. Fiquei lá flutuando, até que uma vontade de agradecer tomou conta de mim. Agradeci ao Pai da luz e a Mãe Terra, por estar vivenciando tal experiência. Conclui, que o agradecimento se mesclava com certo alívio que buscava, na intenção de controlar meu medo injustificado.

Depois de um tempo, em que fiquei contemplando o negrume do céu, comecei a descer, da mesma forma que subi, na posição de decúbito dorsal. 


Descia oscilando de um lado a outro, como a uma folha solta ao vento. Antes de chegar ao chão, percebi estar atravessando o telhado do meu quarto antigo. Pairando verticalmente em cima da cama.

Olhei em volta e percebi um aglomerado de feixes de energias, assemelhava-se a uma massa amorfa de ondas energéticas multicoloridas e, em incessante movimento. O seu núcleo era denso e negro, vazio como um buraco negro.

Era dividido em camadas desde o centro até a margem, como uma cebola. 


Nas bordas se entrelaçavam fios luminosos. Feixes de várias cores em todas as tonalidades; azul, amarelo, vermelho, e lilás que se conectavam nas camadas correspondentes e brilhantes de energia, desde a superfície até o interior do aglomerado, dando –lhe um formato oblongo na horizontal.

A forma energética pairava ao meu lado e, seria algo fascinante de se observar, se não fosse a sensação de irritabilidade e nervosismo que me passava. A energia me afetava de forma negativa, não me agradava nem um pouco sua presença.

Se fosse colocar em parâmetros físicos, diria que sua presença elevava minha pressão sanguínea, dando a impressão de um ataque cardíaco.

Após identificar a qualidade da energia, acabei me projetando espontaneamente para o quarto com a fogueira. Observei que a fogueira, ao centro do quarto, estava quase se apagando. Comecei a pegar gravetos para alimentá-la, sentia que não podia deixar as chamas se apagarem. Que a lucidez de minha consciência e minha energia dependia do fogo fátuo.

Quando a fogueira voltou a ficar com as chamas altas, novamente senti ondas vibratórias exercerem pressão sobre mim. Uma inspiração muito forte me atingiu e comecei a cantar canções indígenas com uma vibração verbal muito intensa. As canções vinham com uma força muito maior e eram totalmente ininteligíveis para mim.

Percebi que quanto mais me entregava, maior era a energia criada pelas canções que fluíam com tom liquido, aquoso como o elemento água. Sentia como se uma cachoeira jorrasse da minha boca para o espaço e voltando para dentro de mim no mesmo impulso. Quanto mais entusiasmado ficava, maior era o fluxo emitido pelas canções e mais vitalizado me sentia.

Abandonei-me por completo na força do verbo, na energia que criava e inspirava as canções. Cheguei a ponto de esquecer de mim mesmo, acreditando por momentos, ser apenas verbo, palavras, vibrações...Não sentia mais medo, me entreguei por completo, só existia as canções. Minha consciência se expandia na semi-escuridão do quarto. 


Tive um sentimento intuitivo de que se formavam universos através do verbo. 

Minha consciência fluía num mar infindo de vibrações energéticas de linguagem. Tudo era uma imensa onda e, eu, fazia parte dessa onda, existia na vibração das canções, no intento do verbo.

Em dados momentos, lembrava-me e sentia meu corpo psicossomático agachado entoando as canções. Então em puro entusiasmo, começava a cantar cada vez mais alto, e mais alto, até esquecer novamente de mim como forma e minha consciência se perder na linguagem. Depois de um tempo, parecia-me que tinha perdido o controle da situação e, estranhamente, senti uma fisgada extremamente aguda, vinda do meu umbigo no corpo físico. Senti a impressão como um choque abrupto, no meu corpo psicossomático.

Não entendia como em outro corpo mais sutil e, em estado expansivo de consciência, poderia captar com tamanha precisão a pontada aguda no meu físico. De qualquer forma, as pontadas continuaram e a sensação era horrível e definitiva. Controlei a altura das canções e comecei a entoá-las mais baixo e graves, na intenção de não mais sentir a agonia proporcionada pelas pontadas. Voltei a perceber meu corpo psicossomático.

Eu estava sentado em cima da minha perna esquerda, com o braço direito apoiado sobre o peito. Com cabeça erguida, cantava menos entusiasmado e mais controlado. Isso me dava à impressão que não sentiria, mas as pontadas agudas no umbigo. Do meu corpo psicossomático pré-sentia meu corpo físico encolhido em posição fetal. Veio-me um pensamento estranho do tipo, estar tendo ataques egomaníacos.

Depois disso, continuei controlando a altura das canções, que ficaram cada vez mais baixas, até ir perdendo a consciência e, por fim apaguei.

Acordei em seguida!

*ensonho= Projeção extrafísica lúcida, consciente.

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