
Projeção extrafísica espontânea.
Horário: 6h30
Data: 13/02/06
Quando dei por mim, estava diante de uma mata.
Observei à minha frente um pequeno portal natural feito de folhas e cipós de árvores e plantas.
Abaixei e passei por ele.
Entrando na mata, senti as folhas tocarem minhas costas encurvadas. Ao adentrar, cheguei no interior de uma gruta que estava incrivelmente clara.
Dava a impressão que os raios solares penetravam naquele ambiente coberto por vegetação e terra. Algo na gruta prendeu minha atenção deixando-a aguçada.
Comecei a olhar a parede da gruta. A terra era seca, de um amarelo acinzentado, onde cresciam vários brotos de plantinhas relativamente distantes umas das outras. Eram simples, mas nem por isso menos belas. Tinham quatro folhas com 5cm de largura e 10cm de comprimento, sendo que suas pontas enrolavam para dentro, dando um aspecto de tubo muito interessante. Eram verde-musgo com uma listra amarela ao centro.
Ao ficar observando essas exóticas plantinhas percebi o quão lúcido estava, e que minha atenção era a mesma que usava em meu mundo cotidiano, com a exceção de um nível de sobriedade e clareza perceptiva incomuns. Podia ver todos os detalhes da gruta, na parede via as rachaduras produzidas pela falta de umidade da terra. Percebia todas as plantas, folhas, árvores e cipós que circundavam a gruta, dando-lhe aspecto semelhante ao de uma abóbada.
Descobri que podia observar e identificar tudo ao meu redor, do mesmo modo que faria em meu corpo físico, ou seja, eu era eu mesmo, sem via de dúvidas. Meus pensamentos eram coerentes e a lucidez acompanhada de sobriedade me deixava alerta, ligado.
Observando as plantinhas, lembrei das palmas de minhas mãos. Pretendia vê-las, na intenção de continuar mantendo as imagens coesas e aumentar minha lucidez. Assim que pensei nelas, meu braço direito se levantou deixando a palma de minha mão a uns 30cm do meu rosto. Identifiquei-a. Ela estava perfeita, realmente era ela, como no físico.
Tentei levantar o braço esquerdo, mas tive pequena dificuldade para levantá-lo e estender minha mão. Sentia certo peso no braço (refiro-me à sensação física de peso, como se o nervo estivesse lesado). Mantive a calma e, logo, consegui levantá-lo também, deixando a palma da mão esquerda bem aberta e diante aos meus olhos. Ela também estava perfeita e uniforme como no físico.
Olhei por mais uns segundos as palmas, delineando os riscos e percebendo os calos. Quando senti que estava totalmente “acordado” resolvi observar os itens do “sonho”.
Olhei para cima e vi as folhas das plantas que se estendiam formando a abóbada da gruta. Mantive minha atenção fixa por alguns segundos nessa posição e, depois, voltei para as palmas de minhas mãos. Estava tudo coerente e claro.
Prossegui com a técnica.
Procurei alguma coisa diferente que ficasse guardada na minha memória, algum detalhe que me prendesse a atenção, mas não encontrei nenhum. As pedrinhas e plantas que se encontravam na parede, embora exóticas, não tinham efeito sobre mim. Voltei a olhar as palmas de minhas mãos, continuava lúcido e tudo estava coerente.
Olhei novamente em volta, fixei minha atenção por mais tempo nas plantas ao redor. Sabia que poderia ficar ali, olhando-as para ver se elas se dissolviam, mas não quis fazer o teste, mesmo porque não olhava as coisas de relance, e sim profundamente, e ainda assim elas continuavam coesas. Isto, significava que estava agindo com meu corpo extrafísico no mundo tridimensional (vida diária)
Alguma coisa me atraia para além da gruta, então girei meu corpo em seu próprio eixo para esquerda, num ângulo de 130゜, e vi uma trilha fechada, mas muito clara à minha frente. Segui adiante calmo e confiante, movido por uma curiosidade que até então desconhecia. Sentia meus passos incrivelmente leves, e embora ouvisse o estalar de alguns galhinhos que se quebravam com meu pisar, meu andar era silencioso e praticamente deslizava por entre a trilha.
Observava os mínimos detalhes e nunca esquecia de olhar para as palmas de minhas mãos. Sentia os galhos e folhas das diversas plantas e árvores me tocando ao passar por elas. Continuei caminhando sóbrio e calmo pela trilha e, sempre depois de alguns metros, olhava as palmas de minhas mãos.
Cheguei a um ponto da trilha em que duas árvores pendidas na diagonal se cruzavam, bloqueando a passagem e deixando apenas a opção de passar por baixo.
Tinha que agachar para passar por elas.
Acreditei que a dificuldade me faria descontrolar ou me desgastar emocionalmente, não podendo continuar o percurso; poderia acabar perdendo a lucidez e, assim, voltando para o físico, então olhei bem fixo para as palmas de minhas mãos, para atestar minha consciência e controle. Delineei todos os detalhes perfeitamente, senti que estava controlado e “sólido”, então simplesmente abaixei e deslizei por baixo das árvores.
Ao chegar do outro lado vi que a trilha estava terminando, ela estava muito mais larga e clara.
Podia até ver o seu fim.
Estranhamente, depois disso senti uma certa sonolência.
Voltei-me para as palmas de minhas mãos e elas estavam um pouco disformes. Pela primeira vez em toda a experiência tinha perdido um pouco de lucidez. Mantive-me calmo, sabia que se a sonolência me dominasse as imagens se turvariam, e eu ficaria inconsciente e voltaria para meu corpo físico.
Concentrei minha atenção bem nas linhas e digitais de minhas mãos, abri bem os olhos e trouxe-as bem diante dos meus olhos até envesgá-los levemente.
O resultado foi excelente, fiquei novamente alerta e extremamente consciente.
Levantei e continuei a andar alegremente com passos leves até chegar no final da trilha. E, lá chegando, vi que terminava nos fundos do quintal de uma casa.
Percebi que era manhã, um claro dia de sol. Sem cerimônia fui entrando no quintal.
Sabia intuitivamente que tinha um propósito a cumprir.
Estava a uns três metros da casa quando, de repente, me deparei com três cães que estavam deitados no chão, onde dormiam preguiçosamente na grama do quintal. Olhei à minha esquerda e avistei uma escadinha com cinco degraus que conduzia para a casa.
Fui em direção aos degraus.
O primeiro e maior cachorro abriu os olhos, fechando-os em seguida. Tive um leve pensamento de que ele poderia acordar e me atacar, mas estava tão confiante que logo descartei tal pensamento. De qualquer modo, o pior que me aconteceria seria voltar para o corpo físico, por susto ou oscilação emocional.
Segui para os degraus. Do meu lado esquerdo, uma galinha caipira começou a cacarejar, ela percebeu minha presença. Olhou-me curiosa e desconfiada.
Soltei um sorriso de contentamento e subi os degraus.
A casa que se avistava era de alvenaria, parecia ter uns quatro cômodos, dava a impressão de abandonada. Sua cor era branca, tinha acabamento rústico por fora e estava um tanto suja.
Passei pelo cômodo dos fundos, a porta estava aberta, na verdade parecia nem mesmo ter porta. Podia ver o interior da casa. O cômodo parecia ser um quarto que ligava à sala. A porta de passagem entre o quarto e a sala estava bloqueada por um móvel que a principio não identifiquei. O quarto estava desarrumado, mal tinha mobília e os poucos móveis que se encontravam eram pobres e precários.
Sabia que tinha que entrar, mas decidi não entrar pelo quarto e ir para frente da casa.
Quando cheguei, procurei uma referência. Queria gravar todos os detalhes daquele ambiente. Aproveitei minha lucidez e observei o bairro. Vi as cabeças de algumas pessoas que passavam na rua, sobressaindo um pouco acima do muro que cercava o quintal. Olhei para as casas da vizinhança e fui registrando o local. Olhei para o horizonte morro acima e vi duas indústrias.
A região lembrava muito certos bairros de Jacareí. Avistei a torre e a chaminé de uma das duas indústrias. Tinha quase certeza que já tinha visto aquelas empresas. Acreditei ver algo escrito torre, mas logo descartei a hipótese, pois minha função linear e interpretativa de escrita parecia não funcionar deliberadamente, como normalmente na vida diária.
Não conseguia ler claramente o que estava escrito na torre. A distância da firma era de uns trezentos metros ou mais, ainda assim sabia não ser esse o problema, e sim o fato de concentrar-me racionalmente em um ponto para interpretá-lo tridimensionalmente.
Como não pude ler, guardei bem a imagem do local. Voltei para meu propósito e me dirigi à casa. A porta da frente que dava para a sala estava aberta, parecia haver só o batente da mesma. Ao entrar na sala da casa, sabia intuitivamente o que estava fazendo lá; não sei como, mas sabia.
O cômodo estava quase completamente vazio, a não ser pela presença de uma mesa retangular ao centro, feita toda de madeira, algumas cadeiras espalhadas pelo o chão da cozinha e um armário que bloqueava a passagem para o quarto dos fundos. Tudo na residência, sem exceção, era de extrema carência. O ar de abandono era evidente. Mas, ao contrário de tudo, eu me sentia contente e motivado por estar lá ou melhor, vivenciando conscientemente tal experiência.
Tinha certeza que lá existiam crianças, entretanto, sabia disso através de uma convicção máxima que surgia ou agia em mim, mas não fazia a menor ideia de onde vinha ou discernimento de sua origem .
De inicio não as via, mas as sentia.
Intuí que estavam escondidas.
Olhei por baixo do armário e vi um corpinho lá, encolhidinho.
Agachei-me e engatinhei em sua direção.
De súbito, parei debaixo de uma cadeira próxima ao armário, e apareceram os pezinhos de outra criança. Quis tocá-los, mas logo desapareceram da minha vista.
Peguei uma panela que encontrei no chão e comecei a batê-la no piso e dizendo:
— Olá, crianças...
Oi, crianças...
Apareçam!
Então, voltei a olhar para debaixo do armário e a criança também não estava mais lá. Virei-me para o centro da sala e lá estava; um bebê de mais ou menos oito meses de idade. Era um menino, sem camisa e com a fralda solta na altura dos joelhos.
Estranhamente ele não engatinhava, rastejava com dificuldade pelo chão como a uma lagarta. Uma cena não muito agradável de se ver. Naquele instante, entendi o motivo de estar naquele lugar.
Levantei-me e fui para próximo do bebê.
Num ato de pura inspiração comecei a cantar uma canção para ele.
Uma linda canção que desconhecia, mas saía espontaneamente de dentro de mim.
A vibração das palavras era rítmica, harmônica e leve.
Fiquei impressionado ao perceber que a melodia tinha um tom fluído, como água. Passava uma atmosfera de confiança e segurança para a criança. Lembro-me de algumas palavras da canção, que incentivava o bebê dizendo-lhe que era belo e forte, finalizando com a expressão de que ele era o reflexo de Deus.
Tudo era expresso de forma simples, clara e natural. Sentia enorme afeto pelo bebê, mas de forma alguma esse sentimento estava relacionado com pena ou compaixão, antes era um amor puro e verdadeiro. Algo alheio a sentimentalismo ou a qualquer outro emocionalismo que nos faz perder a sobriedade.
Creio que o sentimento era algo que nunca tive em minha vida ou, pelo menos, não de forma deliberada.
Nesse ínterim, passei a mão sobre seu corpinho, acariciei suas costinhas e senti a maciez da pele de seu bumbum. Dei uma risada marota com a nitidez da sensação.
Ao pegá-lo no colo, percebi que ele tinha uma certa deficiência mental, lembrava as crianças excepcionais e tinha dificuldades de coordenação motora.
Ao observar o real estado do bebê, subitamente a outra criança apareceu do meu lado. Logo a abracei, trazendo-a para junto de mim, mas por algum motivo não prestei muita atenção em sua fisionomia. Lembro-me que ela deveria ter uns três anos de idade, e também apresentava deficiência, embora em grau menos acentuado.
Segurando o bebê no meu braço direito e conduzindo a criança com o braço esquerdo, fomos em direção à mesa.
Ao chegar, me sentei na cadeira e coloquei a criança sentada na minha perna esquerda. Nesse instante, uma mulher saindo de um cômodo (quarto) à nossa frente parou a poucos metros de nós e ficou me fitando.
Logo percebi sua relação com as crianças, era sua mãe.
A mulher era branca, alta e bastante gorda. Tinha um cabelo muito liso de cor castanho avermelhado e usava-o curto, no estilo chanel. Tinha uma expressão triste e apresentava traços leves de síndrome de down em sua fisionomia.
A mulher, parada diante de nós, fitava-me com seus olhos de glóbulos protuberantes e tristes. Enquanto olhávamos calados um para o outro, vi sair do mesmo cômodo outra mulher também muito gorda. A princípio pensei que fosse sua irmã, mas não parecia em nada com ela, a não ser pela altura e peso.
Ela era muito mais morena, e tinha cabelos muito pretos que usava amarrados na altura do topo da cabeça. Ela também me fitou, mas não me importei com ela. Voltei minha atenção para a mãe das crianças, ela se aproximou e, se ajoelhando, encostou a cabeça junto à sua filha, que estava sentada na minha perna esquerda. Disse à mulher que seus filhos cresceriam belos e fortes. Seriam saudáveis e cheios de vida.
Teriam o “amor de Deus”.
Então estendi meu braço esquerdo em volta da mãe, posicionando a palma da mão no topo da cabeça da sua filha. A mão do braço direito, com a qual segurava o bebê, posicionei de tal forma que a palma ficasse próxima do seu chakra coronário.
Em seguida, disse em voz alta e forte que a energia de cura que estagnava em meu corpo só me atrapalhava pelo fato de não utilizá-la:
ela não circulando adequadamente só poderia me prejudicar.
Então intentei doar toda a minha energia para as crianças e a mãe.
Disse em voz alta:
“Desejo sinceramente doar minha energia”.
No instante em que proferi essas palavras senti uma força dominar todo meu ser.
Fechei os olhos e me senti imerso em uma onda de energia. Em seguida disse em voz alta que estava selado, que a partir daquela marca em diante começava a minha vida.
Em seguida, nada mais enxergava a não ser um espaço cinza e neutro e uma inspiração radiante, como uma onda de energia invadindo meu corpo psicossomático.
Em meio à onda inspiradora de energia, comecei a emitir sons guturais, ininteligíveis e indefinidos, mas que de alguma forma eram benéficos, pois intuía a sensação que fluía naturalmente.
Quis controlá-los e transformá-los em uma canção indígena, porém ao começar a ordená-los, a mesma força verbal me fez acordar instantaneamente em meu corpo físico.
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