domingo, 5 de fevereiro de 2012

Origem Hindu.


Estado alterado de consciência provocada.
Ingestão de Três cogumelos de cinco cm.

Espécie: Stropharia Cubensis.
Principio Ativo: Psilocibina.
Data: 03/12/05
Horário: 14:25


Depois de ingerir três pequenos cogumelos fui para o quintal de casa. No intuito de me concentrar me deitei no chão.
Fiquei observando o céu azul e as nuvens brancas que pareciam macias como o algodão. Não demorou muito, apenas 15 minutos e a psilocibina começou a fazer efeito. Primeiramente um relaxamento brusco e profundo, muito parecido com a borracheira da Ayahuasca. Realmente tem-se a impressão de o corpo ser uma borracha. Depois uma vontade de rir, muito boa e gostosa. Comecei a sentir as primeiras alterações visuais, que ainda eram muito tênues. Mas logo a expansão da consciência foi atingindo elevados graus.
Meu estado emocional se elevou também, desestabilizando -me em seguida. Sentia minha pressão sanguínea aumentar, fiquei nervoso. Um calor sobreveio em meu corpo, principalmente em meu peito. Dei algumas profundas inaladas com o objetivo de acalmar meu estado irritadiço, sem sucesso. Resolvi entoar uma canção. Olhando fixamente para o céu, pronunciava algumas palavras ininteligíveis em tom monótono. Minha atenção ficou presa nas nuvens brancas que vagavam em contraste com o azul celeste. Parei de cantar. Passei a perceber os espaços vazios entre as nuvens e o céu, que formavam outras imagens e formas. Senti meu nervosismo aumentar, ainda assim, minha percepção me induzia a ficar absorvido nas imagens que se formavam. As nuvens, que antes eram macias e arredondadas como algodão, agora tinham aspectos geométricos. Na verdade, verifiquei que o que lhes davam a aparência de cristais lapidados era a miríade incontável de linhas tênues, translúcidas e brilhantes que atravessavam toda a abóbada celeste de ponta a ponta em todas as direções imagináveis.
Esses fios, ou finíssimas linhas luminosas, atravessavam uns aos outros de forma complexa e aparentemente desorganizada, mas nunca se enroscavam. Eram perfeitamente esticados e davam a ideia de estarem naturalmente tensionados, como os fios das teias de aranha.

Não era a primeira nem a última vez que tinha visto essas linhas, ainda sim, era algo fascinantemente e intrigante de se observar. Contudo, não podia ficar contemplando por mais tempo, pois o meu nervosismo alterava meu estado emocional ao extremo.
Comecei a sentir falta de ar, ou acreditei estar com deficiência respiratória e uma agonia me abateu. Todo medo e receio pesaram sobre mim. 

Não demorou muito e comecei a sentir a sensação de um calor no meu chakra coronário, como uma vibração morna exercendo pressão sobre mim.
Passei a sentir-me mais calmo, principalmente quando uma voz começou a dizer para me acalmar, que deveria relaxar, que estava muito nervoso e isso era desnecessário.
Minha confiança aos poucos foi voltando e com isso minha vontade de ver quem falava comigo.

Percebi que a voz era feminina e muito doce, transmitia paz e carinho. Num instante, vi do meu lado direito um véu diáfano, como uma tênue película que separava meu ambiente tridimensional de um outro plano consciencial. Assim, pude ver uma mulher que se apresentava do outro lado do véu, com suas mãos estendidas na minha direção dando-me um passe energético.
Não a percebia integralmente. Ela estava transparente, translúcida como um quartzo de cristal fumê. Minha confiança e calma acentuaram-se quando senti já conhecê-la.
(Em outra ocasião, em que me encontrava em estado emocional descontrolado, por causa de um relacionamento pessoal muito oscilante, ao cair na cama em prantos senti uma energia parecida no meu chakra coronário. Em seguida, uma visão acima de mim se apresentou; um círculo de pessoas vestidas de branco fazia uma corrente energética para mim. A visão que mais me chamou a atenção causando-me certa familiaridade foi de uma mulher vestida toda de branco, com o cabelo bronze, avermelhado, curto e estilo chanel. Tinha o maxilar forte com o queixo um tanto quadrado, mais bem proporcionado; uma expressão meiga e uma face bonita e calma.

Antes de apagar, sua face cobriu meu campo de visão. Pois bem, se tratava da mesma mulher que via através do véu diáfano, que me acalmava com suas palavras e energia serena.)

Fui me acalmando e tentei vê-la nitidamente, mas sem sucesso.
Estranhamente passei a captar, do meu lado esquerdo, mais outra sensação. Alguém também falava comigo desse lado. Era a voz de um homem. Também o percebi parcialmente, embora não visse o véu desse lado. Só conseguia concentrar minha atenção total e perfeitamente no lado direito, mas a voz e a impressão da imagem desse homem eram nítidas. Ele falava rapidamente.

Também usava roupas brancas mas, ao contrário da mulher, suas palavras eram diretas e severas, críticas e de certa forma maliciosas, como que zombando de mim. Fiquei ouvindo humildemente, sem perder a percepção do meu lado direito onde se encontrava a mulher. Aos poucos minha atenção ficou completamente direcionada para o que ele me falava e perdi a visão da mulher. De qualquer forma me sentia melhor e expressava interiormente meus sinceros agradecimentos pelo seu auxilio.
Continuei a ouvir as palavras incessantes do homem, que mais parecia um papagaio tagarela. Procurava, da melhor forma possível, aceitar e entender o que me dizia sem me opor ou me defender, acreditava que seria o outro lado da moeda e que talvez precisasse desse tipo de repreensão. Ele parecia não ter mais paciência comigo. Falava sem cessar, quase que me acusando e ainda usava certo tom de escárnio. Dizia-me que, se não conseguisse me controlar ou deixar de ser um nervosinho e não conseguisse relaxar de forma alguma, então que gastasse minha energia com o sexo, assim fatalmente não restariam mais forças e deixaria de resistir ou me encher como uma panela de pressão. 

Entendia o que ele estava me dizendo mas, logo, ele se tornou repetitivo. Falava e falava sem parar...
Parecia que queria discutir, ou que eu argumentasse com ele. Prosseguiu com sua glossolalia, até me convencer a discutir com ele. Fiquei igual a um esquizofrênico a discutir com uma voz na minha cabeça, que não parava de falar e que não me deixava argumentar. Fiquei tão irritado que o mandei calar a matraca. Queria xingá-lo, despachá-lo, não agüentava mais aquela voz irritante nos meus ouvidos. Até que, enfim, não suportei e mandei-o para as cucuias. Levantei-me e percebi a sua voz ainda baixinha em meus ouvidos, repetindo as mesmas ladainhas como um disco furado. Percebi o absurdo de tudo aquilo e comecei a rir às gargalhadas. Logo não ouvia mais a sua voz. Fiquei satisfeito e fui para dentro de casa.
Ao entrar, fui direto para o corredor de passagem da sala para meu quarto. Parei um instante em frente ao altar, onde estavam meus objetos de poder (maracá, tambor, pedras colares etc.).

Depois segui para o quarto, minhas pernas estavam moles, pareciam de borracha.
Abaixei a cabeça e estiquei os braços no intuito de alongar os nervos. Quando já estava com a cabeça pendida para o chão senti um silêncio, uma força invisível parecia me chamar de volta junto ao altar. Fiquei de frente para ele observando, receptivo; esperei por um procedimento a ser tomado. Logo um comando me intuiu a pegar meu maracá. Peguei-o e levantei até a altura do peito e sem intenção comecei a chacoalhar. Um silêncio profundo me absorveu e uma força inspiradora agitou meu braço. Entreguei-me por completo e agitei o maracá de uma forma que nunca tinha feito. Criava sons em ritmos rápidos e desassociados e girava-o por partes do meu corpo. Em cada órgão específico chacoalhava em ritmo diferente. Sentia um alívio quase que de imediato. Principalmente quando trouxe para perto do meu pulmão esquerdo. Entrei em uma espécie de transe. Sentia que uma força me conduzia a usar o maracá para me limpar.
Quando finalmente e espontaneamente parei, senti uma sobriedade e lucidez aguda. Fisicamente também me sentia melhor. Agradeci à força e coloquei o maracá no altar.
Voltei para o quarto e sentei de pernas cruzadas com as costas apoiada na parede e a frente para a direção leste.
Percebi, parcialmente, dois metros à minha frente, a imagem transparente de uma pessoa. Na verdade, a sensação era mais nítida do que a visão e tive a convicção de que era o “Índio”, este parecia estar sentado de frente para mim a me observar. Fechei os olhos para melhor me concentrar, mais logo meu campo de visão foi sendo invadido por miríades de formas geométricas, das mais complexas e coloridas possíveis. Elas giravam em caleidoscópio, e umas se entrelaçavam às outras em movimentos e bailados incessantes e multicoloridos, criando imagens sobrepostas, mas sem perder cada qual sua singularidade. Embora as formas geométricas fossem perfeitamente belas e cristalinas, seus movimentos, em concordância com suas cores iridescentes, eram nauseantes.
Acreditei que as formas em minha mente me dominariam e ficaria inerte, à mercê dos seus movimentos nauseantes e hipnóticos. Na verdade eu me entreguei ao medo. Após tal constatação, senti uma fisgada e uma dor chata e aguda, dois centímetros à esquerda na periferia do meu umbigo. Essa sensação foi o bastante para desejar não ver mais as formas geométricas.

Meu intento foi suficiente para que elas se desintegrassem do meu campo de visão. Senti que não tinha controle e ficava facilmente absorvido por elas. Respirei fundo, e expulsei a dor ao exalar o ar.
Olhei à minha frente e a imagem do “Índio” continuava do mesmo jeito mas, desta vez, tive a impressão que ele não me observava. Olhava adiante, dando a intenção de que não poderia depender dele, mais sim da minha própria força. Era indiferente, ou aparentava tal indiferença.

Procurei me concentrar para não me dispersar, e foi então que ouvi uma voz na minha cabeça dizer: “Veja de onde vens... A tua origem!” No mesmo instante, apareceu no meu campo de visão uma belíssima cordilheira de montanhas extraordinariamente altas. Tive plena intuição de que conhecia o lugar. Era inteiramente familiar. Aquelas montanhas azul-esverdeadas com seus cumes pontiagudos cobertos de neve estavam gravadas tão profundamente em meu íntimo, que me senti lá novamente, meditando na posição de lótus e contemplando a cordilheira. A visão não durou muito tempo, mas o suficiente para que uma parte muito antiga de mim recordasse e acordasse perante a visão intimamente ligada ao meu ser. A cordilheira de montanhas era muito parecida com as de Caximira, região divisória e motivo de conflitos na atualidade entre o

Paquistão e a Índia.
Depois da visão, não mais vi o “Índio”.
Peguei o meu violão toquei umas notas e, em estado nostálgico, chorei. Depois minha ex companheira chegou, relatei a ela a experiência e, como ainda estava como o efeito psicodélico do cogumelo, resolvemos dar umas voltas pelo bairro. Eram quase dezoito horas e o crepúsculo estava maravilhoso, tudo sem exceção se apresentava a mim colorido e com uma nitidez incrível, como no país das maravilhas de Alice... Comentei com minha ex -companheira sobre a percepção e tamanho descomunal do céu, e que era assim que gostava, dessa sensação límpida que a planta (fungo) proporcionava. Uns quinze ou vinte minutos depois o efeito sumiu por completo e voltei ao estado normal de consciência.

2 comentários:

  1. Que loucura, Tori!

    Como sempre suas experiencias bizarras e tocantes...rsrs... Quem sabe um dis vc não visite essas cordilheiras na primeira atenção... Não se esqueça de voltar por aki pra nos contar!

    Um abraço!

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  2. ahahahaha pode crêr Jéssika ... quem sabe, não?

    É estranho porque sempre tive uma afinidade com Montanhas e cordilheiras. Se eu for volto pra contar sim rsrsrs

    Bjs

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